quarta-feira, 18 de julho de 2018

POSTAIS SEM SELO


Sou já em alguns crepúsculos de verão, na praia, vendo o sol desaparecer na água e a minha vida com ele, sobretudo a saudosa fracção da minha existência em que, aos dezoito anos, era o pavor das mães e o regalo das filhas nos bailes de sábado dos Bombeiros Voluntários Lisbonenses, me murmurava, durante os boleros
- Tem os olhos tão azuis, seu fofo
isto as filhas claro, o que as mães murmuravam quando me aproximava para uma nova dança era mais no género
-Desapareça antes que chame o meu marido que é estivador e lhe dá um murro no alto da cabeça que fica oito dias a cuspir brilhantina

António Lobo Antunes em Quarto Livro de Crónicas.

Legenda: fotografia de Janine Niépce

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