segunda-feira, 18 de outubro de 2021

ÀS VEZES, ESCREVE

13 de Março de 1992

«Fernando Echevarria: escrevera sobre ele há muitos anos, ainda nas páginas da Seara Nova, ignorando quem era e o que fazia. Houve um verso que ficou (há palavras que atravessam a minha vida, vá lá saber-se porquê» «e sangue adelgaçado em alegria» (de novo, o sangue, reparaste?). Depois, muitos anos depois, houve um jantar e uma amizade discreta (com o Fernando e a Flor)). É um homem de rosto concentrado e silenciosos que gosta de algumas coisas simples e importantes, como música, vinhos e poesia. Tem uma espantosa sensibilidade `*a forma das palavras e anda por Paris como um clandestino de samarra que tem por missão acender entre os humanos pequenos nichos de respiração e transparência. Por vezes, quando passo de carro ao fim da tarde pelos cais, vejo-o voltado para si e aberto para os outros, num café junto ao Sena: um livro, um caderno, um olhar tranquilo. Às vezes, escreve.»

Eduardo Prado Coelho em Tudo o Que Não Escrevi Volume II

Sem comentários: