domingo, 17 de outubro de 2021

OLHAR AS CAPAS


Granta

Nº 2

Direcção e Editorial: Carlos Vaz Marques

Textos de José Eduardo Agualusa, Miguel Esteves Cardoso, Hélia Correia,

                 Afonso Cruz, José Gardeazabul, Luísa Costa Gomes, Ana Teresa

                 Pereira, João Pina, Raquel Ribeiro, Gonçalo M. Tavares

Capa: João Pina

Edições Tinta-da-China, Lisboa, Outubro de 2013

Durante muito tempo não quis saber do Ochoa, precisamente porque o meu trabalho não era sobre política. Mas houve um escritor que um dia me disse: «Para compreender a maneira como Cuba olha para Angola se materializava naquela obsessão pelo Ochoa que ainda existe na sociedade cubana. O trauma não é Angola, ou a guerra: o trauma é terem fuzilado aquele homem, filmado o julgamento, transmitido diariamente na televisão como um reality show sobre um crime e o seu castigo, a autocritica, o mea culpa, peito aberto às bals. Os militares do Ministério do Interior de Camaguey só tinham medo que eu fizesse perguntas sobre o Ochoa, nem queriam saber de Angola. Quem me teria denunciado? Talvez nunca venha a sbar, mas sei agora que a minha teoria se concretizou ali, diante do Freddy e do Nicoklai.

Dias depois de tudo, li assim, num verso do poeta cubanoo Carlos Esquivel (que também esteve em Angola): «Nunca vuelvas donde fuiste feliz, porque es peligroso ser feliz dos veces.» E eu, que fora a Cuba tantas vezes desde 2005, primeiro deslumbrada, depois desiludida, cansada de tanto sorrir – aprendera finalmente a lição.

Raquel Ribeiro do texto «É Perigoso Feliz Duas Vezes»

Nota do editor: Arnaldo Ochoa foi um alto general do regime cubano que acabou fuzilado, acusado de tráfico de droga, de diamantes, e de marfim, e de ligações com Pablo Escobar, na Colômbia.

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