No dia 25 de Novembro de 2024, aconteceu na Assembleia
da República um espectáculo grotesco, rasca.
A extrema
direita sempre pretendeu «comemorar» o 25 de Novembro.
Consegui-o este ano.
Com o apoio do PSD.
Foi a 13 de Setembro do passado ano, que a notícia podia ler-se na página 9 do Público:
«O Parlamento aprovou em Junho um
projecto de deliberação do CDS-PP que prevê que este órgão de soberania passe a
assinalar anualmente o 25 de Novembro de 1975, como acontece com o 25 de Abril. A proposta centrista
foi aprovada com os votos a favor de PSD, Chega e IL. Socialistas, bloquistas,
comunistas e Livre votaram contra e o PAN absteve-se.»
A notícia terminava assim:
«O Governo de Luís Montenegro anunciou, pouco depois de tomar posse no início
de Abril, que vai "criar uma comissão
para comemorar, em 2025, os 50 anos do 25 de Novembro"».
Alguns lembretes da tal data que a Maria Velho da
Costa estabeleceu que era UM DIA NÃO:
Melo Antunes em 24 de Novembro de 1975.
«Todos, incluindo
os palermas e ignorantes, têm direito a comemorar o "seu" 25 de
Novembro. Foi para isso que se fez o 25 de Abril."
Sousa e Castro, capitão de Abril, Novembro de 2024.
«As pessoas esquecem-se do clima político da altura e de ter sido um
plenário de trabalhadores do DN que saneou os 24. E, muito antes disso, uma
direcção afecta ao PS tinha saneado, por exemplo, a poetisa Natércia Freire,
responsável pelo suplemento literário do jornal e respeitada à esquerda e à
direita. E depois do 25 de Novembro foram saneados centenas de profissionais da
imprensa, rádio e televisão. Por isso, é melhor não andarmos a atirar pedras,
pois não?»
David Lopes Ramos
«Há algo clarinho como os factos: a consciência de que no dia 25 de Abril de
1974 tudo mudou. O que era ditadura tornou-se projecto de democracia, o que era
silêncio podia ser dito, o que era monólito tornou-se diversidade. Iniciou-se
um processo, que ainda hoje não terminou, porque as democracias estão sempre em
construção, mas a partir dessa data tudo ficou diferente. Tentar apoucar esta
data, fazendo do 25 de Novembro a data da liberdade, é um erro histórico e uma
lamentável forma de tentar dividir em vez de unir.
Que o CDS, que sempre perseguiu essa revisão, o fizesse ainda se consegue
compreender historicamente. Já se estranha que uma força tão nova como a
Iniciativa Liberal consiga equiparar a celebração do 25 de Novembro ao derrube
da ditadura, como fez de forma lamentável o seu líder, mas a IL adora guerras
culturais. Agora que o PSD, com toda a sua responsabilidade política, tenha
proporcionado este palco a André Ventura é algo que se compreende muito mal e
que o irá perseguir durante anos.»
Do editorial de Davis Pontes no Público
de 26 de Novembro de 2024
«Nesses avanços e recuos, o 25 de Novembro foi crucial para travar não uma “ditadura comunista” – o PCP continuou no governo e algumas das mais importantes nacionalizações são posteriores a Novembro –, mas sim o risco de um confronto entre fracções militares que se podia transformar numa guerra civil. Aliás, quando se confronta os defensores da versão “diabólica” do 25 de Novembro com as provas da participação comunista num golpe, não passam da “entrevista” de Cunhal a Oriana Fallaci, que qualquer pessoa que conheça o pensamento de Cunhal, com o que se sabe da estratégia do PCP nesses meses e da posição da URSS, sabe que ele não poderia ter dado aquelas respostas. Acresce que, quando confrontada com os desmentidos à sua “entrevista”, Fallaci prometeu divulgar as gravações, o que nunca aconteceu. O PCP tem muitas culpas no cartório no PREC, mas esta não tem.
Na verdade, os derrotados do 25 de Novembro são, a 25, a ala esquerdista
ligada ao Copcon, que por razões intrinsecamente militares e corporativas sai à
rua, ficando isolada e derrotada. A 26, os derrotados são outros, todos aqueles
que queriam ilegalizar o PCP.»
José Pacheco Pereira
no Público 23 de Novembro de 2024
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