sábado, 30 de novembro de 2024

DISTO, DAQUILO E DAQUELOUTRO


 

No dia 25 de Novembro de 2024, aconteceu na Assembleia da República um espectáculo grotesco, rasca.

 A extrema direita sempre pretendeu «comemorar» o 25 de Novembro.

Consegui-o este ano.

Com o apoio do PSD.

Foi a 13 de Setembro do passado ano, que a notícia podia ler-se  na página 9 do Público:

«O Parlamento aprovou em Junho um projecto de deliberação do CDS-PP que prevê que este órgão de soberania passe a assinalar anualmente o 25 de Novembro de 1975, como acontece com o 25 de Abril. A proposta centrista foi aprovada com os votos a favor de PSD, Chega e IL. Socialistas, bloquistas, comunistas e Livre votaram contra e o PAN absteve-se.»​

A notícia terminava assim:

«O Governo de Luís Montenegro anunciou, pouco depois de tomar posse no início de Abril, que vai "criar uma comissão para comemorar, em 2025, os 50 anos do 25 de Novembro"».

Alguns lembretes da tal data que a Maria Velho da Costa estabeleceu que era UM DIA NÃO:

 «A actual situação de anarquia militar foi, em certa medida, fruto das nossas ilusões: nós acreditámos que se podia instalar no Exército uma estrutura política democrática. Enganámo-nos.»

Melo Antunes em 24 de Novembro de 1975.

«Todos, incluindo os palermas e ignorantes, têm direito a comemorar o "seu" 25 de Novembro. Foi para isso que se fez o 25  de Abril."

Sousa e Castro, capitão de Abril, Novembro de 2024.

«As pessoas esquecem-se do clima político da altura e de ter sido um plenário de trabalhadores do DN que saneou os 24. E, muito antes disso, uma direcção afecta ao PS tinha saneado, por exemplo, a poetisa Natércia Freire, responsável pelo suplemento literário do jornal e respeitada à esquerda e à direita. E depois do 25 de Novembro foram saneados centenas de profissionais da imprensa, rádio e televisão. Por isso, é melhor não andarmos a atirar pedras, pois não?»

David Lopes Ramos

«Há algo clarinho como os factos: a consciência de que no dia 25 de Abril de 1974 tudo mudou. O que era ditadura tornou-se projecto de democracia, o que era silêncio podia ser dito, o que era monólito tornou-se diversidade. Iniciou-se um processo, que ainda hoje não terminou, porque as democracias estão sempre em construção, mas a partir dessa data tudo ficou diferente. Tentar apoucar esta data, fazendo do 25 de Novembro a data da liberdade, é um erro histórico e uma lamentável forma de tentar dividir em vez de unir.
Que o CDS, que sempre perseguiu essa revisão, o fizesse ainda se consegue compreender historicamente. Já se estranha que uma força tão nova como a Iniciativa Liberal consiga equiparar a celebração do 25 de Novembro ao derrube da ditadura, como fez de forma lamentável o seu líder, mas a IL adora guerras culturais. Agora que o PSD, com toda a sua responsabilidade política, tenha proporcionado este palco a André Ventura é algo que se compreende muito mal e que o irá perseguir durante anos.»


Do editorial de Davis Pontes no  Público de 26 de Novembro de 2024

«Nesses avanços e recuos, o 25 de Novembro foi crucial para travar não uma “ditadura comunista” – o PCP continuou no governo e algumas das mais importantes nacionalizações são posteriores a Novembro –, mas sim o risco de um confronto entre fracções militares que se podia transformar numa guerra civil. Aliás, quando se confronta os defensores da versão “diabólica” do 25 de Novembro com as provas da participação comunista num golpe, não passam da “entrevista” de Cunhal a Oriana Fallaci, que qualquer pessoa que conheça o pensamento de Cunhal, com o que se sabe da estratégia do PCP nesses meses e da posição da URSS, sabe que ele não poderia ter dado aquelas respostas. Acresce que, quando confrontada com os desmentidos à sua “entrevista”, Fallaci prometeu divulgar as gravações, o que nunca aconteceu. O PCP tem muitas culpas no cartório no PREC, mas esta não tem.

Na verdade, os derrotados do 25 de Novembro são, a 25, a ala esquerdista ligada ao Copcon, que por razões intrinsecamente militares e corporativas sai à rua, ficando isolada e derrotada. A 26, os derrotados são outros, todos aqueles que queriam ilegalizar o PCP.»

José Pacheco Pereira no Público 23 de Novembro de 2024

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