«A Celeste dos Cravos, apesar da idade avançada, não recusava
solicitações para partilhar a sua história, para participar em comemorações da
Revolução de Abril. Foi assim até este ano, quando se celebram os 50 anos de
Abril: esteve no mar de gente que desceu a Avenida da Liberdade, na sua cidade
de Lisboa, mas também fez questão de estar na Festa do «Avante!», a realização
anual do seu partido, o PCP.
Celeste Caeiro nasceu em Lisboa, em Maio de 1933, cidade onde trabalhou
viveu grande parte da sua vida. De origens humildes, na manhã de 25 de Abril de
1974, com 40 anos, saiu de casa no Chiado, onde vivia, com a sua mãe e a filha
ao seu cuidado, rumo ao restaurante onde trabalhava, no edifício Franjinhas, na
Rua Braancamp. Nas palavras de Celeste, «a casa fazia um ano nesse dia, os
patrões queriam fazer uma festa e o gerente comprou flores». Com as operações
dos capitães de Abril em curso ali ao lado, o restaurante não chegou a abrir e
Celeste levou os cravos no caminho de volta a casa.
Foi já no Chiado que se deparou com os veículos militares que rumavam
ao Quartel do Carmo, para deter Marcelo Caetano. Foi isso que lhe explicou o
jovem militar (que, para seu desgosto, Celeste nunca voltou a encontrar) a quem
perguntou o que se passava. «Isto é uma Revolução!», acrescentou, no relato da
própria Celeste, a que se seguiu o pedido de um cigarro. Celeste não fumava, a
tabacaria estava fechada, mas a sua gratidão para com aqueles jovens que
protagonizavam a libertação de 48 anos de fascismo levou a oferecer-lhes o que
tinha: os cravos vermelhos que acabaram nos canos das espingardas. Com o seu
gesto carregado de simbolismo, Celeste Caeiro deu expressão à adesão popular às
acções do Movimento das Forças Armadas, naquele mesmo dia, e que viria a ser
sintetizado na fórmula «Aliança Povo-MFA».
«Correu tudo muito bem. Tinha de correr, pois os cravos estavam nas espingardas e elas assim não podiam disparar...», contou sobre o dia em que o País se libertou da ditadura fascista. Celeste Caeiro faleceu hoje, aos 91 anos.»
Texto copiado de Abril, Abril
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