sexta-feira, 2 de abril de 2010

CARLOS PAREDES É NOME DE GUITARRA

CARLOS PAREDES GUITARRA PORTUGUESA
COLUMBIA SPMX 5002
Editado em 1967
Acompanhamento à viola de Pedro Alvim
Fotografia de Augusto Cabrita

Tinham palavras as músicas, havia poemas recitados e havia música sem palavras.

A música de Carlos Paredes, este LP de capa preta, a acompanhar os dias a caminho de um tal Abril.

Lado 1
Variações em Ré Maior – Porto Santo – Fantasia – Melodia Nº 2 – Dança – Canção Verdes Anos
Lado 2
Divertimento - Romance Nº 1 – Romance Nº 2 – Pantomina – Melodia Nº 1

Ouvir Carlos Paredes é voltar sempre aos verdes anos, àquele mudar de vida. Sentir a ofegante respiração em cada espira dos seus discos, um respirar de dignidade, de carácter, de génio, um corpo dobrado sobre uma guitarra.
“Gosto demasiado da música para viver às custas dela.”, disse, um dia, com aquela desconcertante simplicidade que o acompanhava a todas as horas.
Rui Vieira Nery chamou-lhe “um príncipe”.

Dele disse José Saramago:

“Não o pensava antes, quando escutava a guitarra de Carlos Paredes, mas hoje, recordando-a, compreendo que aquela música era feita de alvoradas, canto de pássaros anunciando o sol. Ainda tivemos de esperar uma década antes que outra madrugada viesse abrir-se para a liberdade, mas o inesquecível tema de Verdes Anos, esse cantar de extática alegria que ao mesmo tempo se entretece em harpejos de uma surda e irreprimível melancolia, tornou-se para nós numa espécie de oração laica, um toque a reunir de esperanças e vontades. Já seria muito, mas ainda não era tudo. O resto que ainda faltava conhecer era o homem de dedos geniais, o homem que nos mostrava como podia ser belo e robusto o som de uma guitarra, e que era, a par de músico e intérprete excepcional, um exemplo extraordinário de simplicidade e grandeza de
carácter. A Carlos Paredes não era preciso pedir que nos franqueasse as portas do seu coração. 

Estavam sempre abertas.”

“Canção Verdes Anos”, que Carlos Paredes escreveu para o filme de Paulo Rocha “Os Verdes Anos” (1963) tem poema de Pedro Tamem:

Era o amor
Que chegava e partia
Estarmos os dois
Era um calor, que arrefece
Sem antes nem depois

Era um segredo
Sem ninguém para ouvir
Eram enganos e era um medo
A morte a rir
Dos nossos verdes anos

Foi o tempo que secou
A flor que ainda não era
Como o outono chegou
No lugar da primavera

No nosso sangue corria
Um vento de sermos sós
Nascia a noite e era dia
E o dia acabava em nós



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