sexta-feira, 2 de abril de 2010

FALA DO HOMEM NASCIDO

ORFEU STAT 013

Poemas de António Gedeão
Músicas de José Niza
Orquestração José Calvário
Arranjo gráfico Beatriz Morais Alçada
Fotografias Álvaro João
Editado em 1972

Lado 1
Estrela da Manhã – Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha
Fala do Homem Nascido – Samuel
Desencontro – Samuel e Tonicha
Tempo de Poesia – Duarte Mendes
Vidro Côncavo – Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha

Lado 2
Poema da Malta das Naus – Samuel
Lágrima de Preta – Duarte Mendes
Poema do Fecho Éclair – Carlos Mendes
Poema da Auto-Estrada – Tonicha
Poema de Pedra Lioz – Samuel

Pelo ano de 1969, José Niza encontrava-se em Zaú Évua, no norte de Angola, a cumprir serviço militar. O correio da guerra levara-lhe um livro, “Poemas Completos”, de António Gedeão, e um recado: “para musicar”.De poemas, aparentemente soltos, resultou “Fala do Homem Nascido”, um dos mais belos discos da música portuguesa.

Fala do Homem Nascido

Venho da terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.



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