quarta-feira, 14 de abril de 2010

NÃO ME PEÇAM RAZÕES

MN - 10 005

Lado 1

Há-de Haver - José Saramago
O Menino da Sua Mãe - Fernando Pessoa
Boda Pagã - Francisco Delgado
Canção - Fernando Morgado
O Cavador - Guerra Junqueiro
Pátria - Afonso Duarte
Orfeu Rebelde - Miguel Torga

Lado 2

Carta a Angela - Carlos de Oliveira
A Estrela - Carlos de Oliveira
O Viandante - Carlos de Oliveira
Há Lágrimas Nos Teus Olhos - Carlos de Oliveira
Não me Peçam Razões - José Saramago
Margem Esquerda - Urbano tavares Rodrigues
Dies Irae - Miguel Torga

Todas as músicas são da autoria de Luis Cilia.


Poemas traduzidos para francês por Jorge Reis

O disco tem uma cuidada apresentção gráfica e inclui uma pintura de Helena Vieira da Silva dedicada a Luis Cilia, que também aqui se reproduz.


Editado em 1969.

A propósito deste disco de Luis Cilia, transcrevo o comentário de João Pedro publicado aqui:


"Em relação ao Luis Cília, não posso deixar de partilhar uma história que jamais esquecerei, sendo essa uma das grandes explicações para o "carinho" especial que tenho por Luis Cilia. Abreviando a história, quando uma vez visitar a minha avó, numa casa feita de pedra, no meio das pedras, numa aldeia na Beira Alta, a minha mãe trouxe de lá um disco do Luis Cília " La poesie portugaise Vol. II". Nada de anormal, não fosse a casa da minha avó, não ter electricidade, nem água canalizada, etc... nem a minha avó ter gira-discos (a minha santa avó mal sabia assinar o nome dela). Ainda hoje desconheço como é que o disco lá foi parar, pois a minha avó não viveu o suficiente para mo contar, mas desconfio que talvez um tio meu, quando foi a França o tenha trazido, sabe-se lá porquê. Era muito miúdo na altura e demorei muitos anos até ouvir esse disco, numa fase de maior maturidade. E é ai, que chego ao cerne da questão: a melancolia da voz de luis Cília nesse disco, é a única que consegue retratar de forma fiel a própria melancolia do país em que vivíamos. Os arranjos sublimes, o contrabaixo, violoncelo, aliada à forma sentida como Luis Cilia interpreta cada uma daquelas canções, não têm comparação, na minha opinião, com qualquer outro cantor (Ouvir " O cavador" ; "Carta a Ângela" Boda pagã" " Há lágrimas nos teus olhos", naquela contexto tão especifico, acredito que tocaria necessariamente o coração do ouvinte."

"Não me peçam razões"
"Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.


Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.


Não me peçam razões, ou sombras delas
Deste gosto de amar e destruir:
Nos excessos do ser é que amanhece
A cor da Primavera que há-de vir."




5 comentários:

leonardo.verde disse...

Amigo ou amiga (?) do "Cais do Olhar", as suas palavras são eloquentes para elucidar bem o carinho que todos nós que ouvimos o Cília no tempo do fascismo, temos por ele... só é pena que não tenha escrito esta opinião no site que mantenho sobre a sua vida e obra (www.luiscilia.com) que decerto já estariam hoje reescritas e associadas a outros depoimentos e palavras sentidas de portugueses que ao Luis dizem pela sua obra e coragem: obrigado, Luis Cilia.

Sammy, o paquete disse...

Muito obrigado pelas suas palavras.
Também uma palavra para o site que mantém sobre Luis Cilia: notável trabalho.
Aqui no "Cais do Olhar" procuramos, durante uma vintena de dias, fazer uma viagem por alguns cantores, músicos, poetas, escritores que marcaram o caminho na luta contra a ditadura.
Vão faltar muitos. Não é o caso de Luís Cilia.
Dizer-lhe que a bonita história sobre este disco de Luis Cilia, lia-a num comentário sobre um outro disco do Cilia e publicada no blogue "Ié-Ié". Achei-a bonita e senti que ajudava a compreender o trabalho de Luis Cilia. O seu autor chama-se joão Pedro.
Um abraço

leonardo.verde disse...

obrigado pela sua avaliação do site que mantenho com o Luis. Já agora uma informação em primeira mão já que não consta do site do Luis e sobre a feitura deste disco. O luis na altura gravou pelo menos duas canções inéditas para fazerem parte deste disco. Mas por falta de espaço não foram integradas. Uma delas era faixa com poema de Urbano e a outra era sobre a mulher e o amor. Ficaram nas bobines originais, e só há pouco o Luis as reencontrou... e são maravilhosas... talvez um dia o Luis reedite, quando puder (financeiramente, claro)... e tiver os direitos... a sua obra em formato digital.

leonardo.verde disse...

Esta história referem-se a duas canções que na altura não foram gravadas e que nunca mais o foram...

leonardo.verde disse...

Actualização da informação sobre as canções inéditas: As mesmas foram posteriormente editadas em 1973 na versão em castelhano deste disco. # das originais faixas não aprecem nesta edição. O Luis desconhecia a edição castelhana de 1973... como outras edições, como por exemplo uma edição russa de um EP.