domingo, 4 de abril de 2010

ROMANCE DE UM DIA NA ESTRADA


GUILDA DA MÚSICA DP 006

Capa de Armando Alves
Gravado no "Strawberry Studio", Chateau d'Hérouville
Editado em Abril de 1971

Lado 1
Que Força É Essa - Sérgio Godinho
A-A-E-I-O - Sérgio Godinho
Descança a cabeça - Sérgio Godinho
Que Bom Que É - Sérgio Godinho
O Charlatão - Sérgio Godinho/José Mário Branco

Lado 2
Farto de Voar - Sérgio Godinho
Senhor Marquês - Sérgio Godinho
Cantiga da Velha Mãe e Dos Seus Dois Filhos - Sérgio Godinho/José Mário Branco
Romance de Um Dia Na Estrada - Sérgio Godinho
Maré Alta - Sérgio Godinho

Li o “Pela Estrada Fora” de Jack Kerouac antes de saber quem era o Sérgio Godinho.
Antes do álbum chegou o EP com “Romance de um Dia na Estrada”, perdido não se sabe onde. Uma capa com roxos e o rosto Sérgio em negativo.

Quando ouvi a música, liguei-a, de imediato, a Kerouac. Anos mais tarde Sérgio Godinho há-de confirmar que a música tem muito de “on road”.

Este LP tem outras canções fortes, que força é essa que trazes nos braços ou aprende a nadar companheiro que a liberdade está a passar por aqui, entre a rua e o país vai o passo de um anão, mas é esta a minha preferida. E Kerouac tem muito a ver com esse gosto:


“…porque as únicas pessoas autênticas para mim são as loucas, as que estão loucas por viver, loucas por falar, loucas por ser salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, aquelas que nunca bocejam ou dizem um lugar comum, mas ardem, ardem, ardem como fabulosas peças de fogo-de-artifício a explodir entre aranhas, entre estrelas…”


“Romance de Um Dia Na Estrada”


Andava há já vinte dias
ao frio, ao vento e à fome
às escondidas da sorte
um dia fraco, outro forte
que o dia em que se não come
é um dia a menos para a morte
Um dia fraco, outro forte

Quando um barulho de cama

a voltar-se de impaciente
me fez parar de repente
era noite e o casarão
não tinha lados nem frente
dentro havia luz e pão
Me fez parar de repente

Ó da casa, abram-me a porta
fiz as luzes se apagarem
cheguei-me mais à janela
vi acender-se uma vela
passos de mulher andarem
e uma mulher muito bela
chegou-se mais à janela

Não tenhas medo, eu não trago
nem ódio nem espingardas
trago paz numa viola
quase que não fui à escola
mas aprendi nas estradas
o amor que te consola

Trago paz numa viola
Meu marido foi para longe
tomar conta das herdades
ela disse "Companheiro"
eu disse "Vem", ela "Tu primeiro"
"Tu que me falas de estradas"
"E eu só conheço um carreiro"
Ela disse "Companheiro"

A contas com a nossa noite
afundados num colchão
entre arcas e um reposteiro
descobrimos um vulcão
era o mês de Fevereiro
e o Inverno se fez Verão
Descobrimos um vulcão

E eu que falava de estradas

e só conhecia atalhos
e ela a mostrar-me caminhos
entre chaminés e orvalhos
pela manhã, sem agasalhos
voltei a rumos sozinhos
E ela a mostrar-me caminhos

Andarei mais vinte dias

ao frio, ao vento e à fome
às escondidas da sorte
um dia fraco, outro forte
que o dia em que se não come
é um dia a menos para a morte
Um dia fraco, outro forte"



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