domingo, 12 de junho de 2011

JANELA DO DIA


1.
Entrámos na CEE e recebemos “charters” de dinheiro para abater barcos de pesca, abandonar os cereais, destruir vinhas, campos de tomate, pequenas indústrias.
Nunca discutimos a CEE. Tirando o futebol discute-se pouco neste país. Provavelmente porque os portugueses estão contentes, acham que está tudo bem, nunca se pensou no amanhã e o amanhã é já hoje.

Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro, viu este filme, é mesmo o protagonista.

Agora no discurso do dia 10 de Junho, leu umas linhas que alguém lhe deixou em folhas A4:

“Portugal importa hoje cerca de 6 mil milhões de euros de bens agrícolas para consumo, sendo que as nossas exportações chegam apenas aos 3 mil milhões de euros. Um défice alimentar destas dimensões não tem razão de ser num país como o nosso. Esta situação não pode continuar. Temos de desenvolver um programa de repovoamento agrário do interior, criando oportunidades de sucesso para jovens agricultores.”

Mais ou menos pelo tempo em que Cavaco Silva foi primeiro-ministro, o escritor Augusto Abelaira fez um pequeno retrato do que somos:

“A ideia que eu tenho é que os portugueses são preguiçosos. Mas possivelmente isto está errado. Se observo aquilo que parece ter sido a nossa historia,verifico que o Português procurou sempre viver à custa de qualquer coisa. Procuramos viver à custa da Índia, procurámos viver à custa do Brasil, procurámos viver à custa das colónias, procurámos viver à custas dos emigrantes, e suponho que hoje estamos a procurar viver, já inventámos um novo mito, à custa do Mercado Comum. Sobretudo, preguiçosamente, acreditamos no milagre, mas nunca o milagre que implica esforço e que se há-de conseguir aqui dentro. Mais do que investirmos em Portugal, contamos sempre com qualquer milagre que nos venha de fora. Suponho que hoje, a grande mitologia que se cria em torno do Mercado Comum é o mesmo caso. O Mercado Comum é a Índia do nosso tempo.”

2.
Um trabalho de José Bento Amaro, publicado no “Público” de hoje, faz a história andar para trás uma montanha de anos.

Há escravos portugueses em Espanha.

Os novos "negreiros" são famílias que encaminham indigentes para explorações agrícolas espanholas.

Dormem acorrentados, passam fome e não recebem.

3.
Entretanto Junho caminha.

Hoje é véspera de Santo António.

Em Junho todos querem ser felizes, já não sabem alguns o que isso é, ou se alguma vez souberam…

Um craveiro numa água furtada, cheira bem, cheira a Lisboa, casamentos,  marchas, fungagá, sardinhas assadas emanjericos.

 Mais uns dias há-de chegar as férias, ainda para alguns – muitos? Poucos? - outros  é que não – nunca! -  tentam sobreviver… mal…

Setembro há-de chegar.

O que for será,

Logo se verá.

Don’t worry, be happy…


Legenda: imagem tirada daqui

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