sábado, 25 de junho de 2011

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


O despedimento em curso de trabalhadores nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo,
fez-me lembrar “Segundas ao Sol”, um filme de 2002 realizado, em 2002, por Fernando Léon Aranoa.

O filme gira à volta do despedimento colectivo nuns estaleiros em Gijon. Um grupo de trabalhadores completamente perdidos, reúnem-se ao sol das segundas-feiras, para beber uns copos, dizer uma larachas, entabular conversas sem nexo, olhares perdidos no vazio.

Para ajudar uma amiga, por uma noite, a ganhar umas pesetas, Santa faz de “baby-sitter” e cumpre a tarefa lendo à criança a fábula da cigarra e da formiga.

 “Era uma vez um sítio em que viviam uma cigarra e uma formiga.”
(Santa, olhou para a criança procurando a sua aprovação. O pequeno acenou que sim.)
“A formiga era muito trabalhadora e a cigarra, não: gostava de cantar e de dormir enquanto a formiga trabalhava. Passou-se algum tempo. A formiga trabalhou o Verão inteiro, amealhou o mais que pôde e quando chegou o Inverno, a cigarra morria de fome e frio, ao passo que à formiga nada faltava. ”
- Filha da puta da formiga! comentário de Santa para a criança.
“A cigarra bateu à porta da formiga que lhe disse: - Cigarrita, cigarrita, se tivesses trabalhado como eu, não terias fome nem frio - e não lhe abriu a porta.
(Fechou o livro)
- Quem escreveu isto?! (abriu o livro e folheou-o) Não é nada assim. A formiga é uma fila da puta especuladora e além disso o que aqui não diz, é que alguns nascem cigarras e outras formigas. E quem nasce cigarra, está fodido. Disso não falam eles… Disso não falam eles.”

Um outro dia, no tasco, Amador diz a Santa:

“ A questão não está se nós acreditamos em Deus. A questão é se Deus acredita em nós. Em mim, estou certo que Ele não acredita. Em ti tão pouco, Santa.”

Quase no final do filme, Serguei, um trabalhador-imigrante russo, conta, para Santa e os outros, uma história:

“Dois camaradas velhos do Partido Comunista encontram-se. Um diz ao outro:
- “Já viste? Tudo o que nos contaram sobre o comunismo é mentira.”
O outro responde:
“Isso não é o pior. O pior é que o que nos contaram sobre o capitalismo é verdade!”

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