domingo, 25 de março de 2012

ANTONIO TABUCCHI (1943-2012)


O escritor italiano Antonio Tabucchi morreu de cancro, em Lisboa, aos 68 anos. Tabucchi tinha uma longa ligação com Portugal e era considerado um dos nomes maiores da literatura europeia.

Há uma série de motivos que nos podem levar a comprar livros: o autor em si, as capas, um começo, um final, tantas outras, também um título.

Sempre pensei que gostaria de visitar os Açores. Como tantos outros destinos, está arrumado no baú do que há a fazer um dia.

Não conhecia António Tabucchi, um dia, percorrendo livros nos escaparates de livraria encontrei Mulher de Porto Pim.

Fala dos Açores e começa assim:

Tenho uma grande afeição pelos honestos livros de viagens e deles fui sempre um assíduo leitor. Têm a virtude de oferecer um alhures teórico e plausível ao nosso onde imprescindível e maciço. Mas uma elementar lealdade obriga-me a pôr de sobreaviso quem porventura esperasse deste livrinho um diário de viagens, género que pressupõe tempestividade de escrita ou uma memória impermeável à imaginação que a memória produz – qualidade que devido a um parodoxal sentido do real desisti de perseguir. Tendo chegado a uma idade em que me parece mais digno cultivar ilusões do que veleidades, resignei-me ao fado de escrever segundo a minha índole.

Foi a partir daqui que passei a outros livros de Tabucchi.

Gosto de Sonhos de Sonhos e já por aqui andaram citações suas.

Grande admirador e conhecedor de Fernando Pessoa, era amigo íntimo de Alexandre O’ Neill, de quem foi testemunha do seu casamento com Maria Teresa Pinto Basto Gouveia., José Cardos Pires e o realizador Fernando Lopes.

Maria José Oliveira conta, em Alexandre O’Neill – Uma Biografia Literária, o modo como se conheceram:

Provavelmente um pouco antes desta viagem travou conhecimento com um jovem estudante recém-chegado a Lisboa, António Tabucchi, que viria a ser seu amigo chegado, e tradutor da sua poesia. Tabucchi preparava uma tese sobre a poesia surrealista portuguesa e trazia uma carta de apresentação para O’Neill. Foi então visitá-lo e encontrou-o a meio de um jantar, para o qual foi imediatamente convidado: “Queres comer sardinhas decapitadas?”

Nunca percebi muito bem como, mas travou-se de razões com José Saramago.
Pode ser que, por um destes dias, traga o assunto até ao Saramaguando, se bem que o que tenho em dossier não seja muito e o saber quem teve, ou não teve, razão, não fica muito claro.

De uma entrevista ao Público:

Está reformado. Sente-se com mais tempo?

Gosto muito de perder tempo. Acho que é um grande privilégio.

Como é que perde tempo em Lisboa?

Olhando para as coisas, para as pessoas na rua, para a paisagem. A pessoa fica a pensar, a aprender coisas, observa. Pelo gosto de ver, de apanhar a vida alheia, ou de a imaginar. Gosto muito de passar pelo jardim do Príncipe Real, de tomar um cafezinho, de ouvir as conversas dos outros.

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