terça-feira, 27 de março de 2012

ESTAÇÃO


Passam dois minutos da hora.
Estamos a sincronizar os relógios.
Como se o tempo conseguisse
fazer algo por nós. O tempo,
essa probabilidade crescente
de desastre que nos deixa inquietos
com os seus modos excêntricos.
A verdade é que o futuro imediato
é um comboio que saiu agora mesmo
da estação, alguns segundos antes
de razões ou despedidas. «Sinto muito.
A seguir», diz a senhora do guiché,
o cabelo agora branco, a mesma voz
de sempre, habituada a calafrios.
Vítor Nogueira, em Modo Fácil de Copiar Uma Cidade, &ETC, Lisboa, 2011,

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