sexta-feira, 8 de março de 2013

OLHAR AS CAPAS


Já Não Se Escrevem Cartas de Amor

Mário Zambujal
A Esfera dos Livros, Lisboa Outubro de 2008

É certo que na Lisboa de 50 se vivia sem telemóveis, televisão – chegaria em 57 – semáforos, viadutos, metro, centros comerciais, pontes sobre o Tejo, micro-ondas, escadas rolantes, computadores, filmes sem cortes, a Gulbenkian, o CCB e um sem-número de comodidades.
Mas havia os chás-dançantes no Negresco, das cinco às sete e meia da tarde.
Os chás-dançantes era, aliás, moda em vários locais de diversão e nunca deviam ter acabado. Se chamam a isso o progresso, confundem avanço com marcha-atrás.
Era à escolha do frequentador levar menina, como seu par, ou ir à descoberta, o que oferecia o estímulo superior do imprevisto. Este era o bom hábito do nosso grupo. Travavam-se conhecimentos e sempre se sentia nos braços uma fêmea diferente, conforto menos trivial que actualmente. Quem não viveu esta época, ignora que apalpar a namorada na rua ou dar beijos glutões na boquinha dela era caso de polícia, por atentado ao pudor e à moralidade pública.
E depois, chá-dançante não queria dizer que o chá fosse obrigatório. Também valia um bom conhaque e foi o que tomámos, o Jorge e eu, na inédita tarde da zaragata. Por causa da esquadra americana .

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