sexta-feira, 29 de março de 2013

OLHAR AS CAPAS



O Cachecol do Artista

Luiz Pacheco
Contraponto, Lisboa Janeiro 1965

Meditei doze meses neste problema. E a conclusão é que só me resta apelar, apelar sempre, esconder a careca e a vergonha (que haja) e estender a pata. Apelar par o Ministro e para o Secretário. Apelar para o Leal! e para ao amigos, os Mecenas, os Vizinhos, os Desconhecidos.

                      O ARTISTA PRECISA DE UM CACHECOL!

Pode ser que conheças, Leitor, qualquer artista na necessidade: não o desampares, muito especialmente por estes dias de Inverno. E não conhecendo, e querendo, não faças cerimónia: manda o que puderes.
Aceitamos tudo:
Dinheiro, cigarros, fatiota, roupas de cama, mercearias, BACALHAU, brinquedos, livros esferográficas, papel de máquina, vitaminas, uma corneta (para eu tocar num dia que cá sei), viagens pelo Continente, estadias em casas de muito sossego, garrafas de vinho, revistas com nus (são para mim), um casaco de abafar (é para a minha senhora), bolas de Berlim, salsichas, passas e nozes, tâmaras, um osso com tutano para o caldo da Géninha, lâminas de barba, o perdão das nossas dívidas, uma assinatura do Jornal de Letras e Artes (minha leitura predilecta, bolo-rei, bolsa da Gulbenkian (proposta: uma biografia do Bocage), uma caixa de bombons, passarinhos assados, orelheira de porco, latas de conserva (gostamos de qualquer marca), etc., etc., etc,
                                                          O Artista agradecido
                                                                Luiz Pacheco

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