segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


O cinema Londres, que fechou portas nos primeiros dias do ano passado, vai ser, segundo os jornais, transformado em loja de venda de produtos chineses.

Bem localizado, o Londres inaugurado em 1972, veio dar mais brilho a uma das zonas mais interessantes de Lisboa, aquele eixo Alvalade/Avenida de Roma/Areeiro.

Hoje já não é tanto assim.

Uma muito agradável sala de cinema, criteriosa programação, as cómodas cadeiras que não mais serão esquecidas por quem nelas se sentou.

Nada a fazer, os tempos são assim e já não são de hoje.

Já assistimos à transformação do Cinema Império em local de culto de uma seira religiosa, já assistimos a tanta coisa das coisas que têm vindo a acontecer, um pouco por todo o país às salas de cinema, e não só.

Restam as memórias.

Uma sessão da meia-noite para ver o Céu Aberto de Howard Hawks, que tem agarrada uma história que, um dia, contarei.

A tarde em que, com o meu pai, ao fim de vinte minutos trocámos, a exibição de A Insustentável Leveza do Ser, filme de Philip Kaufman sacado do livro de Milan Kundera, a tal Primavera de Praga, por umas garrafas de tinto e rodelas de ananás, em Alcântara, no Cuidado com o Degrau, que já não existe.

As gentes da zona, habitantes comerciantes, estão indignadas com a tal loja de chineses.

Por uma destas noites, eram mais de cinquenta, juntaram-se na Pastelaria Mexicana para curtirem a, tardia, dor e pensarem se haveria uma qualquer volta a dar, qualquer coisa como uma sala polivalente, aberta ao cinema, ao teatro, à música e a actividades  para crianças, e de um café com espaço para tertúlias.

Mas… e o dinheiro?

Pois é!

Com uma pragmática melancolia, regressaram a penates.

Uma história velha.

A história que diz: não há dinheiro, não há palhaços!

Sem comentários: