sexta-feira, 31 de outubro de 2014

OS IDOS DE OUTUBRO DE 1974


16 a 31 de Outubro

A F.N.L.A, único dos movimentos emancipalistas armados angolanos que mantinha uma actividade militar efectiva, ordenou a todos os combatentes o cessar-fogo.
Agostinho Neto:
O povo angolano já conquistou através de 13 anos de luta heroica o direito à sua independência.

OS TRABALHADORES do Jornal do Comércio, empresa do Grupo Borges & Irmão, terminaram a greve, iniciada há 33 dias, quando a administração recusou negociar o caderno reivindicativo então apresentado e no qual se exigia o saneamento do director do jornal, Carlos Machado.
Entretanto, em consequência da intentona de 28 de setembro, as autoridades militares passaram um mandato de captura contra Carlos Machado, o que levou a administração a reconsiderar a sua posição.

O PRESIDENTE Costa Gomes discursa perante a Assembleia Geral da ONU no dia 17:
Não mais admitiremos trocar a liberdade de consciência colectiva por sonhos grandiosos de imperialismo estéril.

PROJECTO DE Lei Eleitoral:
- Direito de voto aos 18 anos e para emigrantes.
- Não podem ser eleitores os indivíduos comprometidos em organizações antidemocráticas.

- Obrigatório e oficioso o recenseamento.


COM A PRESENÇA do Ministro da Justiça, Salgado Zenha, de representantes dos partidos políticos, de muito povo, a Ponte Salazar passou a chamar-se Ponte 25 de Abril.

SEIS MESES volvidos sobre o 25 de Abril.

O Diário de Notícias perguntou a uma série de personalidades:

Que pensa destes seis meses decorridos desde o 25 de Abril?

Respigaram-se estes:

Ilse Losa:
Duma maneira geral, no País e no estrangeiro tinha-se o povo português como pachorrento, passivo e desalentado. Durante quase meio século dominado por um grupelho poderoso que não se dignava dar-lhe a mínima satisfação sobre as medidas tomadas e o dinheiro gasto, parecia, de facto, alheio o seu próprio destino. Eis que em 25 de Abril, a mais humana revolução desde sempre, fez estalar a casca da indiferença e de aparente adormecimento, e surge-nos um povo decidido a provar que se conservou vivo apesar de tudo e de todos.
José Augusto França:
É claro que há gente que não tinha e ainda não tem vergonha – e muito há fazer em todas as frentes, da cultura à economia, para evitar enganos de governo, mal-entendidos de partidos, e, numa história que corre veloz, perdas de tempo. Após estes seis meses, há que ganhar sem descanso outros meses e outras batalhas que hão-de vir. A revolução de 25 de Abril é um facto da civilização e, portanto, um facto moral.
José Cardoso Pires:
Nestes seis meses vivemos mais do que em vinte anos.

Luzia Maria Martins:

Quantos anos serão necessários para que surja essa nova sociedade ansiada pela maioria? Não me atrevo a fazer previsões neste campo. Creio que já é importante que estejamos a caminhar para ela. E  estes seis meses têm sido uma experiência notável, e, na sua generosidade, muito positiva.

Paulo Quintela:

O meu ofício é estudar poetas e transmitir-lhes a mensagem. Ora, os poetas, em momentos altos, são também profetas. Um deles, e dos maiores e mais castigados pelas desgraças do nosso século, Bertolt Brecht, deixou-nos estes versos que agora entrego à vossa meditação, como «vademecum» de todo o homem que quer ser livre e quer ajudar a construir um mundo de justiça e de razão:

De que Serve a Bondade

I

De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?

De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?

II

Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!

Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!

Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio! 


Fontes: Recortes de acervo pessoal, Portugal Hoje, edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo.

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