quarta-feira, 1 de abril de 2015

OLHAR AS CAPAS


Discurso Sobre a Cidade

Daniel Filipe
Sagitário, Porto 1957

São múltiplas as faces da cidade. Matinal ou nocturna, para a conhecer é indispensável descobrir todos os seus disfarces. Quem dela se abeira em busca do rosto único e imutável, busca a simplicidade, que é engano, a evidência no que é íntimo, misterioso, oculto. Diversa e contraditória aos olhos que a percorram com amor, nisso reside a sua maior grandeza e sua força.

Exterior à cidade, não a possuirás nunca. É preciso esquecer, é preciso aceitá-la, como um menino aceita o seio de sua mãe. É preciso que lhes dês um amor novo — um amor feito de conhecimento e de dádiva. É preciso que as tuas veias sejam as veias da cidade — e o sangue rubro, vivo, corra cantando nos teus músculos mortais e aflore de sonho as pedras da cidade. É preciso, afinal, que faças parte da cidade.

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