Carlos Quevedo e
Rui Zink entrevistaram Luiz Pacheco para a revista K de Julho de 1992.
Colocaram-lhe o título «Para dar o Exemplo» e começa assim:
Fomos entrevistar o maior escritor vivo. O maior
escritor, o mais português, o mais vivo: Luiz Pacheco.
Luiz Pacheco, escritor, sofre de asma brônquica.
Calvície precoce. Fractura do úmero devido a tentativa de suicídio na Avenida
de Berna. Queda de dentes natural quase total. Enfisema pulmonar bilateral
diagnosticado em 1958, obrigado a uso permanente de botija de oxigénio, à noite
e ao levantar. Hérnias inquinais não operadas com uso de funda dupla.
Hipersensibilidade ao álcool, o que conduziu a uma fraudulenta fama de
alcoólico incorrigível.
Tratamento de desintoxicação no Centro António Flores,
ambulatório e dois internamentos, Miopia e astigamatismo, quase cegueira.
Andropausa total. Três mulheres reconhecidas. Três estadias no Limoeiro: 1957,
1959, 1968. Duas estadias na cadeia das Caldas da Raínha: 1967, 1968. Prisões
ocasionais e breves em esquadras da polícia. Autor, entre outros títulos, de Literatura Comestível, O Libertino Passeia
por Braga, a Idolátrica, o seu esplendor, Exercícios de estilo, Comunidade.
Que idade é que tinha quando escreveu O Libertino?
Tinha 36 anos. Estava à espera que me servissem o
almoço na Pensão Oliveira, e enquanto me serviam fui relatando os
acontecimentos da véspera. Vê-se que houve pressa de escrever.
Não houve modificações?
Não, quase não houve. Este texto é o que mais me tem rendido dinheiro, mas também rende famas, rende (risos)… porque eu não estava lá em Braga para andar atrás de magalas. Quanto a mim este é um texto circular, começa na morte e acaba na morte, acaba no fracasso. Há sempre uma ideia, quando se faz um texto, há uma ideia estética por trás. A ideia estética que está por trás deste texto é uma coisa que eu nunca vi que é o chamado cinema verité. É aquele gajo que sai para o meio da rua com uma máquina, não é? e começa a filmar coisas. Mas, é claro, este cinema verité é falso, porque a máquina não filma indiferentemente, a máquina filma para onde ele aponta a objectiva, não tira fotografias, é ele que escolhe os ângulos. Portanto, o cinema verité, que em princípio seria um cinema de verdade, é um cinema de construção como qualquer outro. Aqui um bocadinho por trás do texto, sem se dizer nada, houve a noção isto: «Vamos lá ver onde é que eu andei ontem e, antes que me esqueça, escrever tudo».
Não, quase não houve. Este texto é o que mais me tem rendido dinheiro, mas também rende famas, rende (risos)… porque eu não estava lá em Braga para andar atrás de magalas. Quanto a mim este é um texto circular, começa na morte e acaba na morte, acaba no fracasso. Há sempre uma ideia, quando se faz um texto, há uma ideia estética por trás. A ideia estética que está por trás deste texto é uma coisa que eu nunca vi que é o chamado cinema verité. É aquele gajo que sai para o meio da rua com uma máquina, não é? e começa a filmar coisas. Mas, é claro, este cinema verité é falso, porque a máquina não filma indiferentemente, a máquina filma para onde ele aponta a objectiva, não tira fotografias, é ele que escolhe os ângulos. Portanto, o cinema verité, que em princípio seria um cinema de verdade, é um cinema de construção como qualquer outro. Aqui um bocadinho por trás do texto, sem se dizer nada, houve a noção isto: «Vamos lá ver onde é que eu andei ontem e, antes que me esqueça, escrever tudo».
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