sábado, 18 de agosto de 2018

O MEU AVÔ NÃO LIA VERSOS


Teve pois que deixar a hortinha
que tanto amava e a fogueirinha do lar
e veio uma primeira vez descendo a corda
do litoral e como era moço moço
quis lá saber dos versos
da senhora Rosalía de Castro
parecia-lhe o país jeitoso
as raparigas tinham modos
suaves e de uma sem remédio
enamorou-se logo

mas isso foi da segunda vez
quando já era o garboso dono
da mula do seu comércio
em Sangalhos acharam-no um intruso
fizeram-lhe uma espera a tiro
safou-se com habilidade enfim casou

o neto é que muitos anos depois
chorava por ele ao ler na adolescência
téñovos pois que deixar
arboriños que prantei
fontiña campanas Virxe d’a Asuncíon
com um aperto no corazón

Fernando Assis Pacheco em Variações em Sousa

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