segunda-feira, 20 de novembro de 2023

CONVERSANDO

 Não tem telemóvel.

Parte da sua serenidade, ia escrever felicidade mas a palavra certa é serenidade, provém desse pormenor.

Nos transportes públicos ainda transporta, debaixo do braço, um jornal/revista, um livro, rodeado de cidadãos com telemóvel por todos os lados.

José Miguel Júdice escreve, hoje, no Diário de Notícias, como editorial, um interessante texto:

 «Há hoje quase 15 milhões de telemóveis em Portugal (14.906.434, para ser rigoroso, no ano passado). Falamos ao telefone com uma tagarelice que contraria aquela imagem do país sisudo e triste do antigamente. Se temos ou não alguma coisa interessante ou criminalmente inculpadora para dizer, fica ao critério de cada um, mas o facto é que, no ano passado, cada português falou 51 horas ao telemóvel. É uma média, claro, tem de se admitir que se há quem tenha sempre qualquer coisa para dizer, como o Prof. Marcelo, também há quem não tenha nada. E é um progresso. Em 1990 ainda os telemóveis eram poucos, cada um falava, em média, 21 horas por ano ao telefone.

Com o telemóvel tudo mudou. Quase triplicou. Hoje, o número de horas que os portugueses passam ao telefone por ano é de 510 milhões. 510.000.000. Para aqueles que têm alguma dificuldade com tantos milhões, incluindo ministros das Finanças e banqueiros, podem-se pôr as coisas de um modo mais simples. Há 510 milhões de horas, ainda havia mamutes a pastar no Alentejo e entre os nossos antepassados neandertais agitava-se um movimento político que urrava chega à invasão de homo sapiens, imigrantes ilegais que vinham ocupar as nossas cavernas e comer os nossos javalis.

Reduzidas assim às suas proporções, 15 mil escutados por ano num país de tagarelas nem é muito. Um pouco mais de esforço, por favor.»

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