quarta-feira, 22 de novembro de 2023

OS CARTAZES DO ADELINO


 A primeira vez que apanhei a escrita do Adelino Tavares da Silva foi no Cinéfilo, excelente revista, dirigida por Fernando Lopes que se publicou entre 4 de Janeiro de 1973 e 22 de Julho de 1974 e tento um boneco tirado do volume encadernado de todos os Cinéfilos que consta da Biblioteca da Casa.

Depois encontrei-o no primeiro livro que a & ETC publica, Coisas, com um texto em 18 pontos a que chamou Crucificolagem e aqui repruduzo os dois últimos pontos do texto:

Mais tarde dou com os Cartazes que publicou em O Diário.

Numa  limpeza de caixas e caixinhas encontro um envelope, com alguns desses cartazes  de O Diário que teve vida de 10 de Janeiro de 1976 até 1990, o jornal que o José Saramago, quando ficou desempregado do Diário de Notícias, chegou a admitir que fosse convidado pelo Partido para nele colaborar, que não veio a acontecer e que o obrigou a procurar outros horizontes de vida que foram desembocar nesse grande livro que dá pelo nome de Levantados do Chão e depois a toda uma obra que culminará no Nobel da Literatura.

Sobre o Adelino tentei encontrar algo mais que o vulgar nascer e morrer mas a única referência com interesse é uma história do Adelino contada pelo Mário Mesquita publicada no Público de 1 de Setembro de 2012:

«…a reportagem de Adelino Tavares da Silva da recepção no Palácio de Queluz à Rainha Isabel II, que se resumia a uma foto-legenda. A imagem era do quarto onde o casal real iria pernoitar. As palavras muito sucintas: "Aspecto dos aposentos reais no Palácio de Queluz, onde Sua Majestade Isabel II vai encontrar-se hoje à noite com o Príncipe de Edimburgo, seu marido, após quase um ano de separação". Com efeito, o Príncipe Filipe reencontrava a rainha após longos meses de viagem pela Comunidade Britânica. A censura, no dia seguinte, chamou "à pedra" o Diário Ilustrado.»

Resta-me copiar o que o Vitor Silva Tavares desenhou na & ETC quando o Adelino por lá surgiu a colaborar:

Gosto destes Cartazes  de O Diário guardados em envelope amarelecido pelo tempo e vou copiá-los por aqui.

Costumes, gentes, um país outro que ainda encontramos por aí, cartazes datados mas muito bem escritos. Pede-se desculpa pela má qualidade das reproduções. Da imagem mais não posso fazer, do texto farei transcrição.

E é este o 1º Cartaz do Adelino que se publica:

 ÀS VEZES SÓ MUITO TARDE SE ACORDA

«Eis o que muita gente pensa. Eis o que muitos fazem, julgando que «não tocar nas coisas é melhorá-las». Deitam-se a dormir e, depois, quando acordam, estão hirtos, gastos, entorpecidos, anquilosados.

Mais tarde, só muito mais tarde, às vezes, é que percebem o logro. Resistir é estar de pé e atento. Vencer é não se deixar ficar à espera do que, apenas, vem dentro do sonho, porque é mesmo pesadelo.

É útil criar boas legendas, mas o importante, claro, é fazer delas uma bandeira, que se leva ao alto e não de rastos. É assim em tudo.»

                                                                                             A.T. da S.

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