segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

GOSTO DOS DIAS EM QUE APRENDO UMA PALAVRA NOVA

A pergunta inventou-a o Baptista-Bastos: «Onde estava no 25 de Abril?»

O Diário de Notícias, através da jornalista Alexandra Tavares-Teles anda a recolher depoimentos de gente diversa sobre as memórias desses dias.

O escritor Carlos Tê, a 10 de Janeiro de 1974, tinha 18 anos.

Recorda-se:

«Ao meio-dia, quando me sentei no Café, o nevoeiro tinha levantado, mas não se pode dizer que havia sol. Por coincidência, li na secção de curiosidades do jornal da casa que o nevoeiro chega a congelar nas regiões altas do país, formando pequenas estalactites nos ramos das árvores. Chama-se sincelo. Aprendi essa palavra hoje, entre a tabela das marés e a lista das farmácias de serviço. Gosto dos dias em que aprendo uma palavra nova. Sincelo.

Noite. O que mais gosto na quadrada de snooker é o choque das bolas, a fumarada dos cigarros, o rumor de fundo, que é vital para me concentrar. Às vezes junta-se uma pequena plateia, entre eles o Silva, tido como bufo. Mas não leva nada do salão de bilhares. Aqui não se fala à tacada, não se gastam apartes. O Silva não tem nada a reportar a não ser o cálculo dos efeitos, a geometria, o giz, a ponteira dos tacos. O bilhar é lugar científico e ao mesmo tempo abismal. Outra palavra nova. Abismal.»

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