sábado, 25 de fevereiro de 2012

SARAMAGUEANDO


Clara Ferreira Alves, numa sua Pluma Caprichosa que publica no Expresso, dizia:

Somos um país desempregado. Sem voz. Os que agora compram em Portugal vieram aos saldos e o Governo é um prestamista e vendedor autorizado.

Volto às opiniões que José Saramago deixou sobre a entrada de Portugal na Europa que, repito, muito claramente, considerou uma nova forma de capitalismo.


Entraram aqui milhões de contos por dia em fundos da União Europeia e perguntamo-nos onde está esse dinheiro, o que se fez com ele?
Gostaria que o Governo publicasse um anúncio de página inteira nos jornais para explicar o que Portugal recebeu da Comunidade e onde é que essas importâncias foram aplicadas. Era uma informação para o povo português ficar a saber que a entrada na Comunidade não tinha sido um capricho político e que havia razões – que até se comprovavam – justificadas pelo apoio económico materializado em milhões todos os dias no país. Não se fez nunca isso, nem foi dada uma explicação porque seria muito difícil dá-la. E, claro, que eu nem queria chegar ao pormenor dos tostões…

Em Uma Longa Viagem Com José Saramago de João Céu e Silva.

Não diria que o Mercado Comum signifique, com o tempo, a morte da democracia política na Europa. Digo, sim, que a democracia política vai passar a estar condicionada pelos interesses e pela lógica desse mesmo sistema económico que não pode, sob pena de condenar-se a si mesmo, admitir veleidades de contradições dentro de si.

Em José Saramago Nas Suas Palavras, organização de Fernando Gómez Aguilera

Sempre se falou da Europa como de um mercado com não sei quantos milhões de consumidores. Ninguém falou da Europa dos cidadãos que precisam de medicamentos, pensões de velhice dignas, assistência hospitalar, sistemas educativos modernos. É duvidoso que, em 40 anos de construção europeia, nada na Comunidade aponte nesse sentido. Aquilo de que se fala é reduzir os benefícios socias. Se me é permitido, passámos do ideal do Estado-providência para o estado-chulo.

Em José Saramago Nas Suas Palavras, organização de Fernando Gómez Aguilera

Não estou desenganado, sou totalmente céptico. A Comunidade (Económica Europeia) é um conselho de administração de um espaço económico. E, como acontece sempre nos conselhos de administração, quem manda é quem tem mais acções. Cada membro desse conselho senta-se num pacote de acções e, quanto mais alto for esse pacote, mais força e mais poder tem, porque possui mais acções. Mesmo que nós – quando digo nós, refiro-me aos portugueses – nos sentemos ali, fazêmo-lo como uma parte menor, porque a relação de poder e de força no interior da Europa se mantém. Em poucos anos, a Europa será administrada pela Alemanha e nós seremos só uma espécie de satélite do Bundesbank. E embora essa relação de poder entre o forte e o fraco tenha existido sempre, muitos lutámos para que isso não seja um escândalo.

Em José Saramago Nas Suas Palavras, organização de Fernando Gómez Aguilera

A Europa não foi feita pela riqueza mercantil. Foi feita pela riqueza mental, pela intelectual, pela sua capacidade de criar. A Europa não deve ter um futuro de mercadores, mas sim de criadores. Senão, não haverá futuro para este continente.

Em José Saramago Nas Suas Palavras, organização de Fernando Gómez Aguilera

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