quarta-feira, 13 de outubro de 2010

SARAMAGUEANDO


Em Uma Longa Viagem com José Saramago, de João Céu e Silva, naturalmente, há diversas referências à atribuição do Prémio Nobel da Literatura.


Começo por esta, que é a descrição do próprio Saramago de como soube a notícia:

“Eu estava na Feira do Livro de Frankfurt, onde tinha participado numa mesa redonda com outros escritores, exactamente na altura em que o Prémio Nobel seria anunciado – normalmente é revelado na primeira quinta-feira do mês e eu estava na terça e na quarta em Frankfurt. A Pilar tinha ouvido uns “zunszuns” mas não queria, evidentemente, confirmar nada. Nem poderia… Na manhã do dia em que foi anunciado, quando ela me telefona – ou eu telefono do hotel, já não me lembro qual de nós o fez mas creio que foi ela disse-me: “Porque é que não ficas aí? Porque com essa coisa do Nobel nunca se sabe… E eu: “Pilar, eu fico aqui, não me dão o Nobel e perco o avião! Vou-me embora”. Fui para o Aeroporto de Frankfurt. O avião partia às 12,05 e o anúncio do prémio era feito ao meio-dia, altura em que o secretário da Academia Sueca vinha anunciar o nome do galardoado aos jornalistas que estavam no exterior. Ora, eu já estava na sala de embarque em Frankfurt e na fila dos passageiros para entrar quando, de repente, olho para o relógio e penso: “A esta hora já se sabe quem é que ganhou. É um pouco disparatado ir-me daqui sem saber…!” Então saio da fila, vou a um telefone, ligo para o sector de Portugal na Feira do Livro e mando chamar o Zeferino Coelho. Ele não estava ali e a pessoa que me atendeu foi à sua procura enquanto fiquei à espera. Nessa altura ouço uma voz no altifalante que me chama e ao mesmo tempo aproxima-se uma hospedeira da Lufthansa – apesar do avião ser da Ibéria – que vem com um telefone na mão e diz: 

“Está aqui uma jornalista que quer falar consigo”. O mais curioso é que a correspondente da televisão (Teresa Cruz) deve ter dito a razão porque ela não pôde conter-se e disse-me: “È que o senhor ganhou o Prémio Nobel”

Sei que estava evidentemente feliz, mas era uma felicidade que não se manifestava feliz porque era uma grande coisa da qual eu não tinha noção do tamanho.”

Mais à frente, o jornalista invoca a “rivalidade” com António Lobo Antunes, e Saramago responde:

“Não sei porquê, não há rivalidade, ele faz o seu trabalho e eu faço o meu. Agora o problema dele é que disse numa entrevista que ia ganhar o Prémio Nobel e depois não o ganhou. Pronto acabou, não há mais. Às vezes dizem-me “Ele disse aquilo de ti”, mas isso não me importa nada, eu não alimento polémicas com ninguém. Que não esperem a satisfação da minha resposta a uma crítica mal-intencionada – que de vez em quando aparecem – ou a uma acusação de qualquer tipo. Não contem com uma resposta que eu não a dou, é um princípio sagrado. Quanto ao António Lobo Antunes, chegámos, mais ou menos, a ser amigos, estava tudo bem há vinte anos e, de repente, não se sabe bem porquê, ou talvez se saiba demasiado bem, entrou numa espécie de frenesim, de maledicência, de calúnia e do insulto.”

Ainda mais esta:

“A Agustina, numa entrevista que deu disse que o em Portugal só havia dois escritores que mereciam o Nobel: um era o Vergílio Ferreira e o outro era ela. E também diz a certa altura: “Não, o José Saramago não é um grande escritor. É o produto de certas circunstâncias” e por aqui se ficou.”
Numa entrevista à “Visão”, António Lobo Antunes teve este assomo de modéstia:
“Não tenho a menor dúvida de que não há, na língua portuguesa, quem me chegue aos calcanhares. E nada disto tem a ver com vaidade porque, como sabe, sou modesto e humilde”.

Apenas como mera opinião, cabe dizer que o meu interesse por António Lobo Antunes queda-se pelos três primeiros livros e pelas crónicas que vai escrevendo em jornais e revistas, e que vão sendo publicadas em livro.

Nos restantes livros, tornou-se demasiado repetitivo.

Um chato!

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