segunda-feira, 17 de junho de 2013

OLHAR AS CAPAS


Selvagens e Sentimentais

Javier Marías
Tradução: Salvato Telles de Menezes
Publicações Dom Quixote, Lisboa Junho de 2002

Vásquez Montalbán comentou há anos certeiramente que os indivíduos mudam de tudo menos de uma coisa. A ideologia, a religião, a mulher ou o marido, o partido político, o voto, as amizades, as inimizades, a casa, o carro, os gostos literários, cinematográficos ou gastronómicos, os costumes, as paixões, os horários, tudo está sujeito a mudança e mesmo a várias, que se sucedem com rapidez nos nossos tempos acelerados. A única coisa que não parece ser negociável é a equipa de futebol por que se tifa – como dizem em italiano – desde a infância. Tirando alguns vira-casacas impertinentes que na realidade não gostam desse desporto – já sabemos quem são, aqueles que se põem diante da televisão no dia da final do Mundial, para não ficarem arredados das conversas -, ninguém substitui por outro o clube dos seus calafrios. Pode ter-se maior ou menos simpatia secundária ou momentânea por esta ou aquela equipa, é possível admirara alguns jogadores alheios e cobiça-los; mas no que se refere a vibrar, sofrer e saltar de alegria, não há suplantação possível.

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