domingo, 9 de junho de 2013

O SONHO É TAMBÉM ACÇÃO


Se por um Fevereiro, não tivesse partido numa nuvem, o Zé Gomes faria hoje 113 anos.

Quando chegou aos 80, galhardamente, disse:

E nem imaginam como é bom chegar aos 80 anos e dizer: não percebo nada.

Ao contrário de Holderlin sempre disse que a poesia não é a mais inocente das ocupações.

Nasceu com o século XX e, permanentemente, afirmava que se recusava a ter mais de vinte anos.

Pelos séculos fora, ler José Gomes Ferreira é uma aventura fascinante, uma aprendizagem exaltante, uma emoção suave, uma gargalhada feliz.

Um dos melhores de todos nós: coerente, camarada, fraterno.

Dizia que saudades só do futuro, ao mesmo tempo que deixava transparecer as saudades que tinha de não poder inventar esse futuro.

Há quem julgue que nos venceu
só porque estamos para aqui, famintos e nús,
de novo sem terra nem céu,
a apanhar do chão,
às escondidas do luar,
os frutos podres caídos dos ramos.

Mas não.

Temos ainda uma arma de luz
para lutar:
SONHAMOS.

… enquanto os outros, os traidores,
Sem lutas nem cicatrizes
Entregam a terra aos rasto dos gamos
E douram os olhos de velhos senhores
Com voos de perdizes…

Sim, sonhamos.
E o sonho quem o derrota?
- mesmo quando vamos
Perdidos na rota
De um barco sem remos
Na tempestade de um vulcão.

Sim, camaradas, sonhamos.

SONHEMOS!

O Sonho é também acção.

José Gomes Ferreira em A Poesia Continua Moraes Editores, Lisboa Maio de 1981

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom é sonhar, sem dúvida! Imaginem o nosso poeta...que aos 80 nada percebia...como seria se hoje vivo ainda tivesse de perceber este nosso "modus vivandi"...Petra