sábado, 15 de junho de 2013

OLHAR AS CAPAS


British Bar

João Isidro
Capa: Catarina Amaro da Costa
Edição da Câmara Municipal de Lisboa, Março de 2001

A tradição da casa ultrapassou discriminações bem mais patuscas do que as que torciam o nariz à entrada de mulheres. Igualmente datadas foram as que ditaram a manutenção dos vidros foscos para o exterior, ou a divisória lata de madeira, um biombo opaco que desapareceu com as obras mais recentes. Na origem dos vidros foscos esteve a distribuição dos frequentadores quotidianos dos três bares da zona, Todos se conheciam, concorriam entre si, mas não raramente davam uma ajuda ao escritório do lado. Todos eram vizinhos, todos sabiam do seu negócio e do negócio do vizinho. Ainda hoje, os profissionais que restam dos negócios portuários se encontram no British-Bar às mais variadas horas, desde as sete e meia da manhã até ao fim da tarde.
O espírito de boa vizinhança sempre imperou, se bem que, em tempos que já lá vão, se impusesse a distinção entre os estatutos de cada frequentador dos botequins da área. Os patrões reuniam-se no Bar Americano, patrões e chefes confraternizavam no English e todos podiam conviver no British.
O canto do balcão, à esquerda de quem entra, servia de ponto de correio entre os que faziam do British-Bar o respectivo escritório. Ali se deixavam correspondências para que parceiros do negócio levantassem documentação ou mensagens de serviço. Mesmo durante a II Guerra Mundial, quando se espiavam as cargas dos navios que faziam escala ou carregavam no neutral porto de Lisboa, era na mesa desse cantinho que se encontravam para animados jogos de damas dois responsáveis navais das potências beligerantes, o inglês e o alemão. Reza a lenda do British-Bar que nunca se terão zangado. A clientela habitual torcia pelos aliados e no edifício do British-Bar içaram-se as bandeiras britânica e norte-americana quando a Alemanha se rendeu, em Maio de 1945. A fotografia deste evento é exibida com destaque atrás do balcão, e já faz parte da iconografia da casa.

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