sexta-feira, 27 de setembro de 2013

NO COMBOIO DESCENDENTE


No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada,
Uns por verem rir os outros
E os outros sem ser por nada –
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...

No comboio descendente
Vinham todos à janela,
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela –
No comboio descendente
Da Cruz Quebrada a Palmela...

No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não –
No comboio descendente
De Palmela a Portimão.

Fernando Pessoa.

José Afonso musicou este poema de Fernando Pessoa.

Faz parte do álbum Eu Vou Ser Como a Toupeira, 1972

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