quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A BUSCA DE UM PAÍS MAIS JUSTO




Mas eu continuo a acreditar que foi um facto (pelo menos antes do 25 de Abril) que a maior parte dos militantes comunistas (a começar pelo próprio Cunhal) entrou para o partido por um invencível imperativo moral. Não deram o passa «para o outro lado) ávidos de poder, inveja e de vingança, mas levados pela fome e sede de justiça de que falam as Bem-aventuranças. Foi depois, pouco a pouco, que essa fome e essa sede se saciaram ou se reduziram à expressão de uma cegueira que é só uma das alegorias da justiça. Se alguns – raríssimos – podem ter aceite a clandestinidade, o exílio, a tortura, por uma vitória que os recompensasse de tudo isso nas doces datchas de um Cáspio à portuguesa, a maioria não entrou nessa vida como os guerreiros de Alá nas guerras santas: entrou, como dizem agora tantos, de ambos os lados, para dar os melhores anos da sua vida e das suas qualidades à busca de um país mais justo.

João Bénard da Costa em Crónicas: Imagens Proféticas e Outras, 1º volume, Assírio & Alvim, Lisboa Fevereiro de 2010.

Legenda: Artigo publicado da revista Problemas da Paz e do Socialismo, nº 1, Janeiro de 1974.
                Folheto publicado pelas Edições Avante, Outubro de 1974.

Sem comentários: