segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O ESTADO ESTACIONÁRIO


23 de Setembro de 1968.

Boletim médico, divulgado às 20 horas:

Faz hoje sete dias que o Sr. Presidente do Conselho, em plena convalescença da operação por hematoma intracraniano pós-traumático subdural à esquerda, foi acometido por um inesperado e súbito acidente vascular cerebral (hemorragia no hemisfério cerebral direito) que veio interromper a recuperação que estava a fazer.
As oscilações da temperatura, pulso, tensão arterial, respiração e reactividade ocorridas durante a semana estabilizaram-se hoje em sentido favorável.
Às 20 horas a situação é a seguinte: temperatura 38,3; tensão arterial – máxima 15 – mínima 8; pulso 86 p/m.
Continua com respiração assistida com respirador Engstrom.
Resposta motora mais franca às solicitações verbais, mantendo-se, entretanto, o prognóstico reservado.

Em Lisboa corre a anedota:

Acabou o Estado Novo. Agora é o Estado Estacionário.

Nesta altura já é perceptível que Salazar não voltará a governar o país.

Também já não restam muitas dúvidas de quem, dentro de dias, lhe sucederá.

José Gomes Ferreira no 6º volume dos seus Dias Comuns:

… o José Manuel Castelo Lopes foi parar à cadeia, onde dormiu dois dias, por causa dos dizeres vulgares de um anúncio de fita («Um homem morre sozinho! Sem amor, sem isto nem aquilo! Etc.») em que os olhos ridiculamente sectários de não-sei-que-imbecil viram insultuosas referência ao Entubado.
O Diário de Lisboa esteve também, há dias, retido duas horas. Razão: um conteco de principiantes para o Juvenil intitulado A Morte do Palhaço.
E mais espantos deste género.
Estão raivosos de haver morte!


Legenda: A Srª D. Marta do resgate Salazar, irmã do Professor Salazar, na Casa de Saúde da Cruz Vermelha.


Fotografia e legenda do Notícias de Portugal nº 1117.

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