sábado, 12 de outubro de 2013

QUOTIDIANOS


A memória de elefante que me gabava de ter, há já algum tempo que partiu para as pradarias. Hoje, debato-me com metade do cérebro adormecido, tentar lembrar nomes, datas, episódios e encontrar um amontoado de brancas, de vazio.

Por vezes, a meio da tarde, já não lembro o que almocei.

A memória é das coisas mais frágeis que há, ouve-se dizer e João Bénard da Costa escreveu que terá lido em Romain Rolland que Léon Tolstoi guardava a memória de coisas acontecidas tinha ele seis meses.
Lê-se nas Memórias Para o Ano 2000, a missão do homem na terra é lembrar-se.

Pois.
Sentir que estou a perder a memória e não basta murmurar: I’m old.

Augusto Abelaira à conversa com Mário Ventura:

A passagem dos anos, acho que inquieta todas pessoas. O que me mete verdadeiramente medo não é a morte, mas a velhice. A perde de faculdades – e eu sinto que algumas estou a perder, a memória por exemplo. Leio um livro, de que gostei muito, depois quero lembrar-me do que li, e de facto esqueci-me Não ficou cá. E dantes ficava.

Numa entrevista ao JL, por ocasião do lançamento do livro José-Augusto França:

Trata-se de um livro de rigor. Sempre que me lembrava de uma coisa, de alguém, ou de um acontecimento, tratava de reconstituir tudo o que existia à volta dessa lembrança. Consultei muitas agendas das de bolso, por exemplo. Guardo-as desde 1946, numa gaveta. Se me perguntar o que fiz no dia 14 de Fevereiro de 1957, posso-lhe dizer. Vou à agenda. De facto, em tantos perdi uma agenda em Paris, o que me tirou seis meses de vida.

Fosse o tipo meticuloso, organizado que gostava de ter sido, sabia hoje muitas coisas de que já soube mas lhes perdeu o rasto.

Bastava uma simples agenda.

Sem comentários: