quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


É quando ele diz a frase certa: um tipo só precisa de um café e de uma boa cigarrada.

Ouve-se a frase no Johnny Guitar, um dos filmes da vida de muita gente.

De João Bénard da Costa sabemos que era.

 «Só recordam aqueles que confidenciam, a recordação é uma arte que arranca da solidão e do silêncio», escrevi há quarenta e muitos anos, sem ainda saber ler nem escrever. Hoje, que tinha obrigação de saber mais, só posso repetir que esta arte recordatória, este filme mítico, este filme-mito (tão, tão diferente da memória) arranca também daí: da solidão e do silêncio.»

Uma ópera? O melhor diálogo da história do cinema?

Ainda Bénard da Costa:

«Reduzido a escrito e a seco, o diálogo é confrangedoramente banal, Se as pessoas ficam com tal memória dele é pelo concerto das vozes – raspante, a de Crawford, átona a de Hayden – que se ouve no filme e pela associação delas à fabulosa partitura de Victor Young.»

“Vienna – É uma história triste.

Johnny – Sou bom ouvinte de histórias tristes.

Vienna – Há cinco anos apaixonei-me por um homem. Não era bom nem mau, mas… eu amava-o. Quis casar com ele, ajudá-lo a construir um futuro.

Johnny – Mereciam ser felizes…

Vienna – Mas não foram. Separaram-se. Ele não se via amarrado a uma família.

Johnny – Felizmente ela foi esperta e livrou-se dele.

Vienna – Claro que foi. Aprendeu, daí em diante, a não se apaixonar por ninguém.

Johnny – Cinco anos é muito tempo… Com certeza que, entretanto, na sua vida houve outros homens.

Vienna – Os suficientes.

Johnny – O que aconteceria se esse homem voltasse?

Vienna – Quando um fogo se extingue, só restam as cinzas.

Johnny – Quantos homens já esqueceste?

Vienna – Tantos quantas as mulheres de que te lembras.

Johnny – Não te vás embora.

Vienna – Nâo me mexi.

Johnny – Diz-me qualquer coisa bonita.

Vienna – Que queres que eu te diga?

Johnny – Mente-me. Diz-me que esperaste por mim todos estes anos.

Vienna – Todos os anos esperei por ti.

Johnny – Diz-me que morrerias se eu não tivesse voltado.

 Vienna – Morreria se tu não voltasses.

Johnny – Diz-me que ainda me amas como sempre te amei.

Vienna – Ainda te amo como tu me amas.

Johnny – Obrigado. Muito obrigado. 


Play the guitar play it again my johnny

Maybe you're cold, but you're so warm inside

I was always a fool for my johnny
For the one they call johnny guitar
Play it again, johnny guitar

What if you go what if you stay i love you
What if you're cruel you can be kind i know

There was never a man like my johnny
Iike the one they call johnny guitar

There was never a man like my johnny
Iike the one they call johnny guitar
Play it again johnny guitar

Ainda João Bénard da Costa:

«Muitas vezes ouvi a banda sonora do Johnny Guitar sem ver as imagens. Tudo vem, por acréscimo, toda a memória do filme se repovoa, Mas, para que isso suceda, é preciso haver memória, é preciso ter-se visto o filme. Se é verdade que Johnny Guitar é também uma ópera, não o é menos que está dependente daquela única e irrepetível mise en céne.»

1 comentário:

Seve disse...

Mas qual comentário...um tipo a ler estas coisas até fica sem palavras.