quinta-feira, 5 de outubro de 2023

UM CHEIRINHO DE ALECRIM

             cantiga de amigo

                 tripartindo-se

  para o Chico Buarque de Hollanda

 

Chico
anda ver o meu país de generais.

Anda ver os marinheiros
nesta faina do peixe e do patrão.
O meu país de lobos e cordeiros.
Com generais a mais. E um novo capitão.
Anda ver Chico meu irmão
tanto Judas. E só trinta dinheiros.

2

Que festa é esta que estala
por dentro do coração?
É um cravo ou uma bala
que a gente põe na canção?
Que festa é esta que festa
que é feita de solidão?

Meu amigo meu amigo
tanto mar que nos separa!
Quanto mais loiro é o trigo
mais vermelha é a seara.
Estás comigo. E eu contigo.
Connosco está Victor Jara.

A canção é uma arma.
Se alguém lhe toca dispara.

3

Ai flores ai flores do alecrim
ai flores que te não mando
porque já murcham em mim.

Ai flores ai flores dói alecrim
porque te queimam a ti
porque me doem a mim?

Verde ramo. Rubro cravo.
Papoila negra do mando.
Já fui escravo. Livre escravo.
Serei escravo até quando?

Verde canção que cantada
mói por dentro. Dói por fora.
Os cravos da madrugada
morrem aqui. E agora.

Ai flores ai flores do alecrim
ai flores que te não mando
porque já murcham em mim.

Ai flores ai flores do alecrim
porque te queimam a ti
porque me doem a mim?

Joaquim Pessoa em Amor Combate

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