sexta-feira, 2 de setembro de 2011

SER OU NÃO SER


Pela mão de Samuel, o cantigueiro, fui dar a um excerto de entrevista de Mercedes Soza e que consta da biografia, “Mercedes Soza – La Negra” e que foi traduzido por Rodolfo Braceli.

“Por que me enfureço assim com o capitalismo? Pelo que venho dizendo. Porque sou contra a violência. Porque sou contra todas as guerras e mais contra as guerras preventivas, como as denomina o presidente Bush Junior. . É o cúmulo! Que descaramento, que cinismo! O presidente do país mais poderoso da Terra propondo guerras por via das dúvidas. Algo assim como dizer "na dúvida, te mato, vai que um dia você me faz algum mal". Guerra preventiva, algo assim como crime preventivo.

Sou contra a violência, digo, e então contra a desocupação, porque a desocupação destrói a família e isso é violência, não? E sou contra a fome, porque a fome destrói os cérebros e as vidas, e isso é violência, não? E sou contra os que se esquecem de que todas as quartas-feiras os velhinhos aposentados se encontram pra protestar com seu sino de madeira, humilhados e famintos, porque esse esquecimento é violência, não? E sou contra os que se esquecem do grito desesperado das Avós e Mães da Plaza de Mayo, porque esse esquecimento é violência, não? E sou contra os que organizaram tudo pra que os professores tivessem salários de miséria, porque isso é violência, não? E sou contra a fome que descerebra as crianças pra sempre, porque isso é violência, não? Se não estou enganada, tudo isso é violência, violência que mata o presente e condena a um futuro pior. 

A semente de meu comunismo vem de uma pergunta que ao longo do tempo se nenova: Por que há pessoas que nascem sem nada, castigadas pela miséria e pela fome e outras que nascem com tudo e com a possibilidade de se desenvolver intelectualmente?

Se é verdade que, como dizem, o capitalismo controla grande parte do mundo, bem, esse capitalismo é o responsável por tanta escravidão, tanta fome e tanta mortalidade infantil.

Sim, a direita existe, sem dúvida, e como existe! E com ela o capitalismo, que todo o tempo vive dizendo que não existe mais esquerda. Temos que reconhecer: a esquerda está desorientada e dispersa e sem propostas. Mas, sim, existe. Além do mais, quem pode afirmar hoje que o capitalismo é um sucesso? O capitalismo controla o mundo e o que sobra no mundo são a fome, a desocupação, as doenças, o analfabetismo! Do jeito que vão as coisas, se fosse verdade o que não é verdade, quero dizer, se fosse verdade que não há mais esquerda, teríamos que inventá-la urgente!”


Nota do editor: Mercedes Soza cantou no sábado, no palco principal da Festa do Avante de 1979, a primeira que se realizou no Jamor. Depois dela ouviu-se o Quarteto de Max Roach.
Por estas e por outras que é que não há festa como esta!

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