segunda-feira, 1 de outubro de 2012

COM ELAS OU SEM ELAS?


No nº 8 do Largo de São Domingos, fica A Ginjinha.
Como, por outros motivos dizia o Vasco Santana, ginjas há muitas, seu palerma, razão que leva que  nos  posts seguintes irão aparecer mais duas casa que, em Lisboa, se dedicam à venda da popular bebida.
Esta é a mais conhecida ginjinha de Lisboa.
Durante todo o ano é um corrupio de gente, mas nos meses de Verão, magotes de turistas invadem o estabelecimento para provar essa coisa a que se chama ginja, de que ouviram falar, em certos países chamam-lhe sherry, mas não é bem a mesma coisa.
Mas toda esta gente já chegou tarde.
O que agora se vende não chega aos calcanhares da ginja que há muitos anos por ali se bebia, ainda mal tínhamos chegado balcão já o tasqueiro de garrafa na mão, perguntava com elas ou sem.
A ganância negocial levou a que a receita tradicional algures se perdesse e hoje aquilo é uma mixórdia sem nome.
Os grossos copos nem sequer eram lavados, passados ligeiramente por água o que, nos primeiros meses de fogo da ASAE, levou ao encerramento do estabelecimento.




Hoje para evitar confusões, as ginjinhas são servidas em horrorosos copos de plástico.
Admite-se que terá sido Francisco Espinheira, por alturas de 1840, quem iniciou o negócio, que ainda hoje é marca registada, mas pouco tem a ver com a primitiva Espinheira.
Diga-se, por uma questão de justiça, que as únicas ginjas decentes que hoje se bebem são a de Óbidos e a de Alcobaça, mas que são mais licores de ginga do que aguardente de ginja propriamente dita.
O Grande Dicionário Dicionário da Língua Portuguesa de António de Morais Silva define ginja como: fruto da ginjeira, de cor verde e de sabor agridoce, lembra que saber que nem ginjas é como saber bem, ser agradável, que a um velho magro e encolhido se pode chamar ginja, que ginjal é o lugar onde crescem ginjeiras e que ginjinha é uma bebida que se faz de aguardente, açúcar e ginja de infusão.
Também regista que, a um velhote magro e encolhido, se pode chamar ginja, que ginjal é o lugar onde crescem ginjeiras e ginginha  é bebida que se faz de aguardente,  acúcar e ginja de infusão.




A ginja que se fazia em cada do meu pai, seguia a velha receita, conhecida de toda a gente, de uma simplicidade cativante:
Por fins de Maio, princípios de Junho, compravam-se as ginjas, de preferência garrafal dado que a ginja de mesa não é apropriada. Lavavam-se, tiravam-se os pés e metiam-se numa grande garrafa de vidro branco, gargalo largo, juntava-se acúcar amarelo, pau de canela e aguardente, que, digam o que disserem, terá de ser de qualidade.
Em Outubro, com alguma solenidade, provava-se e rectificava-se o álcool e a doçura.
A garrafa só voltava a ser aberta na noite de consoada, levava logo um tremendo golpe, e havia tentativas desesperadas para que para que qualquer coisinha pudesse chegar ao jantar de Ano Novo.
Ao longo dos anos segui a tradição, mas as ginjas foram perdendo aquele agridoce, começaram a escassear, e as que são postas à venda, apesar do preço exagerado, desaparecem num ápice.
A melhor ginja que fiz terá sido a do ano de 1972.
D. Aida engravidara.
Tive o cuidado de guardar uma garrafa para ser aberta, com a respectiva pompa e circunstância quando o catraio, ou a catraia, naqueles tempos não se sabiam essas coisas com antecipação, fizesse 18 anos
 Num jantar a dita, levianamente, foi trazida para a mesa como se fosse vinho tinto,
 ninguém (?) reparou nas ginjas que, dentro, dançavam e aberta que foi, em reles segundos, vazia ficou.
Como se diz na gíria: fiquei para morrer!...

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