sexta-feira, 19 de outubro de 2012

OLHAR AS CAPAS


Richard Llewellyn
Tradução brasileira de Oscar Mendes
Edição da Livraria Globo, Porto Alegre, 1942

Morreram então todos os meus amigos, e são suas vozes glória celestes aos meus ouvidos?
Não, e continuarei dizendo não, sempre não.
Digo deliberadamente não.
Morreu então Ceinwen, e morreu sua amada beleza ao meu lado de novo, e seus olhos, como jóias, a fitar-me, e meus braços magoados com o apêrto dos seus dedos?
Morreu Bronwen, que me mostrou o verdadeiro amor de uma mulher? Morreu ela que me provou que a energia da mulher é mais forte do que a força dos punhos, dos musculos e dos gritos másculos dos homens?
Morreu meu pai, debaixo do carvão? Mas, Deus do céu, ele está ali em baixo agora, dançando na rua com a camiseta vermelha de Davy por cima do paletó, e virá, dentro em breve, para fumar seu cachimbo, na sala da frente, dar palmadas na mão da minha mãe, e olhar, oh! O calor de seu orgulho! Para o retrato de uma Raínha, dado pela mão de uma Raínha, no Palácio de uma Raínha, a seu filho mais velho, cuja batuta levantava vozes em música digna de ser ouvida por uma Raínha.
Morreu o sr. Gruffydd, aquele homem de pedra e de chama, que era amigo e  era mentor, que me deu o seu relógio, toda a riqueza que possuía, porque gostava de mim? Morreu ele? E as lágrimas ainda úmidas no meu rosto, e minha voz rompendo rochedos, em minha garganta, enquanto eu tentava dizer adeus ,e, oh! Deus! As palavras sem ânimo de chegar, eu me afastando dele sem lhe falar, apaixonado e em pranto.
Morreu ele?
Porque se morreu, então eu estou morto, todos nós estamos mortos, e, tudo, de certo modo, não passa duma zombaria.
Como era verde meu Vale e o Vale daqueles que se foram...

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