quinta-feira, 25 de outubro de 2012

QUANDO SALI DE CUBA



“It’s the dream of everyman to go back to the land where he was born, and that’s how it is with me.
Every night I sing a song and cry up for the day when I can go home again, to feel the warm morning sun and to walk where I used to run.
Many things can keep a man homeland apart, but the years and the miles can’t change what’s in a man’s heart, and someday, somehow, I will go back to the land I love”

(“English narration” que integra   Quando Sali de Cuba / The Wind Will Change Tomorrow,  na versão de The Sandpipers)

Imagino que por alusão à Little Italy de Nova Iorque, Little Havana  é o nome  que foi dado ao subúrbio de Miami onde se foram instalando, ao longo dos anos,  os refugiados cubanos que começaram a fugir ao regime de Fidel Castro logo após (ou mesmo antes…) a entrada triunfal das forças revolucionárias em Havana, na manhã de 1 de Janeiro de 1959.

Com o passar dos anos, muito outros “hispânicos” provenientes da América Central e da América do Sul se vieram também instalar em Little Havana, o que fez deste lugar  um “melting pot” no qual os cubanos, embora em decréscimo nas últimas décadas, continuam a constituir a população social e culturalmente dominante.

Ainda hoje Cuba e o regime de Fidel Castro continuam a dividir os corações.

Há os que estão abertamente contra.

Os que estão abertamente a favor.

Há os que estiveram a favor mas,  nos dias de hoje,  já têm algumas dúvidas…

Os que não têm opinião formada sobre o assunto, porque  “vá lá saber-se quem fala verdade…”

E os que se estão absolutamente nas tintas, desde que os charutos continuem a chegar em boa quantidade e qualidade…

Mas eu não escondo a ninguém as minhas simpatias em relação a Cuba e ao povo cubano.

Há que saber situar os factos no contexto histórico da profunda “Guerra Fria” em que ocorreram, e por muitos que tenham sido e continuem a ser os “erros de percurso”,  não posso acusar o regime de Fidel de ter sido o principal responsável por esse estado de coisas…

Mas, por outro lado, também não consigo nutrir uma profunda antipatia pelos cubanos de Little Havana.

A culpa é da Música, como sempre…

Acho que a nostalgia de “Quando Sali de Cuba” me adoçou o coração em relação a esta gente e hoje sinto por eles mais pena do que qualquer outro tipo de animosidade.

Penso nos dramas e nas dificuldades por que passaram…

Imagino o que será estar assim tão perto da nossa Casa e não poder voltar…

E  foi nesta ambivalência de afectos que me dispus a vaguear pela Calle Ocho (Rua 8) que, sobretudo entre a 11ª  e a 17 Avenidas, constitui a verdadeira  “main street” de Little Havana.

É claro que não poderia ter a presunção de tudo ficar a conhecer numas míseras duas horas de passeio…

Mas queria  tentar perceber como é que eles vivem e  saber se ainda seria possível sair dali com um cheirinho a Cuba e às cores de Cuba.

As cores acho que as vi, mas o cheirinho foi mais a Uncle Sam do que a qualquer outra coisa…

Algumas das memórias dessa rua aqui  ficam  documentadas.


Prestamistas e negociantes de ouro…


O Rei  das Batatas Fritas…



Cabeleireiro de Homens e Senhoras, a $10 cada corte de Segunda a Quinta-Feira …


Vendedores de colchões, para os quais a falta de dinheiro do cliente não constituirá qualquer problema…


O reparador Caraballo,  com o qual não haverá  falha possível…


Stands de automóveis com coloridos  “show rooms” ao ar livre…


E lojas de charutos, como não poderia deixar de ser. A mais antiga e  importante das quais passa por ser  “El Credito Cigar Company”, que se situa na esquina da Calle Ocho com a 11ª Avenida e que, entre outros,  produz “La Gloria Cubana”.  Esta Casa foi criada em 1907 e transferiu-se definitivamente para Miami em 1968.


Entrei e fiz despesa.

Mas não lhes confessei que aqueles três charutinhos que me embrulhavam, com tanto zelo profissional, num pequeno saco isotérmico se destinavam a ser fumados pelos meus Amigos numa Festa que, entre outras coisas, celebra e  glorifica a Amizade e a Solidariedade entre todos os Partidos Comunistas do Planeta….

E,  por respeito para com os seus ideais,  nem sequer me despedi  deles da forma  que mais me teria apetecido, isto é, de punho erguido e com um forte PÁTRIA O MUERTE, VENCEREMOS!!!

Se o tivesse feito, o mais certo seria não conseguir chegar inteiro à porta do meu carro…

Mas vi mais coisas ao redor da Calle Ocho…





Vi o monumento em honra dos mártires da Brigada de Asalto 2506,  que na noite de 17/04/1961  foi dizimada na Baia dos Porcos.




Um outro em homenagem a José Marti, o herói da Guerra da Independência  e o  autor de “Guantanamera”, que parece ser o único cubano que,   pelos vistos,  consegue  agradar a gregos e a troianos...



Quase na esquina com a SW 14th Street, vi um bonito mural que glorifica a  união das Américas, cuja elaboração foi da responsabilidade do “Proyecto Multicultural las Américas”. “Unidos a traves del arte” parece ser o seu lema, e os artistas


 homenageados  são, entre outros e para além do Presidente Lincoln, Tito Puente, Rocio Durcal, Pedro Infante, Carlos Gardel, Célia Cruz e Mário Moreno, o




saudoso Cantiflas..  A arte popular no seu melhor, certamente…. E é claro que não falta, por baixo de um desenho das esculturas do Mount Rushmore, um sugestivo “Dios Biendiga y Proteja a América”…

E por falar em arte, consta também que, a exemplo do que sucede em  Hollywood, Little Havana também tem o seu “Walk of Fame” carregadinho de estrelas, onde as do multicultural Júlio Iglésias e da heroína local  Gloria Estefan parecem ser as mais fotografadas. Mas a verdade é que já não tive tempo nem  paciência para ir à procura delas…

Diz a lenda que “Quando Sali de Cuba”  é o hino nacional destes refugiados cubanos e é claro que se pensa, de imediato, que uma música com tanto “sentimiento” só poderia ter saído da pena de um cubano nostálgico da sua terra.

Mas, por ironia do destino,  não foi nenhum cubano quem a compôs… Foi um argentino, de seu nome Luís Aguilé, quem escreveu letra e música  em 1963

Pouco importa, para o caso.

Quando a lenda suplanta a realidade,  publica-se a lenda…

E lá fui eu a  cantar pela Calle Ocho fora…

“Nunca podré morirme, mi corazón no lo tengo aquí
Alli me está esperando, me está aguardando
Que vuelva alli

Quando sali de Cuba
Déjé mi vida déjé mi amor
Quando sali de Cuba
Dejé enterado my corazon


Colaboração de Luís Miguel Mira

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