sábado, 13 de outubro de 2012

DE UM ANÓNIMO, PESCADOR À LINHA


Quando olho Lisboa, da Trafaria,
Ao entardecer com os navios parados,
Dá-me um fanico na fotografia
Que dela tenho sob as sardinheiras
Da minha infância na Graça.

Fico assim parado, no rodapé da alma,
Como se lesse, ao mesmo tempo dois poetas,
E fico na dúvida se estou a olhar Lisboa
ou se ela, como eu, lê selectas.

(É o vinho que faz ver dois, é certo,
mais o bagaço na taberna da Maluca.
Vai pelo mundo um desconcerto
Que co a lírica debaixo do braço
Vou a correr para a baiuca).


Nunes da Rocha em Cancioneiro da Trafaria, edições & etc, Lisboa Fevereiro 2009.

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