sexta-feira, 28 de março de 2014

A ÚLTIMA CONVERSA


 28 de Março de 1974 

Marcelo Caetano proferiu, hoje, através da rádio e da televisão, mais uma das suas Conversas em Família.

Não há uma única palavra sobre os acontecimentos ocorridos no dia 16 de Março  e, muito naturalmente, tão pouco refere o ambiente que se vive no seio dos oficiais das Forças Armadas.

Algumas passagens dessa última conversa:

Desde meados de Fevereiro até agora tenho recebido de todos os recantos do País, de aquém e além -mar, milhares de mensagens de apoio, de incitamento, de estímulo. Tantas que não é possível acusar aos remetentes a sua recepção. Nem sequer responder às centenas de cartas de pessoas amigas, algumas delas tão comoventes. Fica aqui o meu agradecimento a todos. Deus permita que eu seja sempre digno da confiança dos bons portugueses. Por isso me tenho esforçado.
(…)                              
De todas as infâmias que os adversários da nossa presença em África têm posto a correr contra nós e alguns portugueses infelizmente repetem, confesso que me fere mais a de que defendemos o Ultramar para favorecer os grandes interesses capitalistas.
(…)
Os soldados que em África se batem, defendem valores indestrutíveis, e uma causa justa. Disso se devem orgulhar e por isso os devemos honrar.
(…)
E, não tenhamos dúvidas, se alguma fórmula socialista viesse a estabelecer-se  no Ocidente – do que Deus nos defenda! – não seria o anarquismo romântico nem sequer a social democracia conformista, mas sim um colectivismo tirânico, cuja ditadura levaria muitos anos a evoluir para regimes mais humanos.
(…)
Enquanto ocupar este lugar mão deixarei de os ter presentes, aos portugueses do Ultramar, no pensamento e no coração. Procuremos as fórmulas justas e possíveis para a evolução das províncias ultramarinas, de acordo com os progressos que façam e as circunstâncias do Mundo: mas com uma só condição, a de que a África portuguesa continue a ter a alma portuguesa e que nela prossiga a vida e a obra de quantos se honram e orgulham de portugueses ser!

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