Crónicas:
Imagens Proféticas e Outras
1º Volume
(2002-2003)
João Bénard da
Costa
Apresentação:
José Tolentino Mendonça
Assírio &Alvim, Lisboa, Fevereiro de 2010.
Talvez chorasse por ele próprio e pela Sua própria
morte. Porque nós choramos sempre por nós na morte dos que amamos, porque
morremos mais do que eles nesta vida reversa da Ressurreição. S. Bernardo tem
um sermão lindíssimo sobre este tema, respondendo aos frades de Clairvaux - aos
seus frades - que o censuravam por ele permanecer fechado na cela a chorar,
depois da morte de um irmão muito querido. O frei Mateus Cardoso Peres O.P. deu-me
a ler esse sermão há muitos, muitos anos.
«E dizem-me: Não chores. Arrancam-me o coração e
dizem-me: Não sintas. A minha
resistência não é a da pedra, não é de bronze a minha carne. Sofro e choro e a
dor é dentro de mim e não me deixa (...). Tenho medo da morte, da minha e da
dos outros.» Ou, voltando a Dreyer, que há de mais belo do que as lágrimas de
Mikkel, o viúvo, quando responde ao pai, que lhe diz que a alma da mulher está
junto a Deus: "Não lhe amava apenas a alma. Amava-lhe também o
corpo." A saudade dos corpos (daí a nossa necessidade de imagens) dói
muito mais do que a saudade das almas.
«A extrema grandeza do cristianismo vem de ele
procurar não um remédio sobrenatural contra o sofrimento mas um uso
sobrenatural do sofrimento.»
Meu Deus terrível, faz com que eu perceba o sentido desta frase de Simone Weil, publicada
em La Pesanteur et la Grâce, dez anos depois da morte de Odon von
Horvath, que também escreveu no livro deste meu deposto Agosto que Deus, o Deus
Terrível, é O que nos olha com olhos «calmos como os pântanos profundos do meus
país natal" e "tristes como uma infância sem luz».
Assim me fico à tua beira. Tu sabes que és tu.
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