sábado, 21 de fevereiro de 2015

MAIS UM ADEUS A MAIS UM BOM AMIGO


Estava eu a dar uma mija com o Bobby Keys em Innsbruck, depois de um concerto – altura em que o Bobby se costumava sair com umas bocas divertidas. Mas desta vez via-o bastante sério. Até que me diz: «Tenho uma má notícia para te dar… O Gram Parsons morreu.» Foi como um pontapé no plexo solar. Olhei para ele. O Gram, morto? Eu achava que ele até limpo tinha ficado, que estava tudo a correr bem, «Não conheço os pormenores. Só sei que morreu.» Foda-se. Nunca sabes como é que uma coisa destas te vai afectar. O choque nunca vem de uma vez só. Mais um adeus a mais um bom amigo.
Soubemos mais tarde que o Gram esteve limpo até se deixar levar outra vez. Tomou uma dose normal. «É só uma dose…» Mas depois da cura o corpo tinha perdido resistência e foi quanto bastou. É o erro fatal dos agarrados. O processo de desintoxicação já é um choque em si mesmo. Depois pensam: «É só um chuto pequeno», quando na verdade estão a tomar a mesma dose que antes, quando tinham o corpo habituado e cheio de resistências – senão nem a cura era tão dura. É então que o corpo diz: «Que se foda, desisto.» Se não tens mesmo forças para resistires, então faz o seguinte: lembra-te da primeiríssima dose que tomaste e tira-lhe um terço.

Keith Richards em Life

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