sábado, 7 de fevereiro de 2015

O SENHOR CINEMA PORTUGUÊS


Se hoje, ainda por aqui andasse a mostrar-nos filmes, a contar-nos histórias, faria 80 anos.

Com pessoas como o João Bénard da Costa, acontece essa coisa simples: ou se gosta ou não se gosta, sem qualquer possibilidade de vã tentativa de ficar no meio para ver como passam as modas.

O gosto pelo cinema apanhei-o nas matinées de domingo do Cine-Oriente, mas foi com os textos e as apresentações que João Bénard da Costa fazia no início de cada ciclo na Cinemateca, que fui adquirindo novos olhares sobre essa coisa maravilhosa que se chama cinema.

Mais tarde as apresentações de filmes do seu cinema, na RTP2, com realização de Margarida Gil, e as crónicas em O Independente e no Público, reunidas em diversos volumes pela Assírio & Alvim, forneceram outra matéria de entendimento.

A maneira apaixonada como João Bénard nos mostra – sem sempre com razão, felizmente – os filme que amava é um tratado de inteligência e vasta cultura.
No ano de 2003, A Casa Encantada, crónicas suas no Público, caiu nos 69 anos de João Bénard da Costa.

E, mais uma vez divertiu-se e divertiu-nos.

Numa outra crónica, de que neste momento não encontro a data, divagava sobre as idades que nos vão acontecendo:

Como quase toda a gente, fiz planos. Mas sucede com esta história de idades que, no fundo, é3 história de Tempo e do nosso espaço nele, que nunca temos a idade que imaginámos ter quando a não tínhamos.
Aos 50 anos, somos velhos para os de 20 ou de 30, mas quando chegamos aos 70 ou 80, invejamos os de 50 e lamentamos termo-nos visto com o olhar dos que aí vinham e não com o dos que por lá já tinham passado. Cresci a ouvir tias velhas (velhas do meu ponto de vista de criança) a comentar casos de micróbios. Todas elas juravam que o menor dos seus desejos era chegar a essas provectas idades, em que não haveria a menor razão para se estar vivo. Mas, quando começou o tempo de começarem a morrer, todas diziam referindo-se à que as precedera: 2Tão nova!”
Aos 50 anos, costuma-se dizer que não vale a pena viver para além dos 65; aos 65, reduz-se a coisa para os 70; aos 70 para os 80 e só não digo assim sucessivamente porque as possibilidades de sucessão diminuem na razão inversa desse avanço nos calendários. 

Nota do editor:
O título é da responsabilidade de Eduardo Lourenço que assim classificou João Bénard da Costa.

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