terça-feira, 26 de abril de 2016

E ENTÃO O QUE SE HÁ-DE FAZER?



A ditadura vivia as suas últimas horas de estertor.

Marcelo Caetano, mais alguns ministros, no Quartel do Carmo, que se encontrava cercado de povo e pelas tropas de Salgueiro Maia, se não choravam, estavam no limiar de lágrimas derramadas.

Que se há-de fazer?, perguntava um qualquer general para um outro qualquer general, ambos na cidade cercada, sem perceberem muito bem o que lhes estava a acontecer.

O extraordinário disco, protagonizado por Adelino Gomes – magnífico Adelino Gomes! -  que relata o que ia acontecendo, guarda o desespero desses tais generais:

- Urgente. Escuto!

- O Chiado está fechado por viaturas saídas do Terreiro do Paço. O Largo do Carmo está cheio de viaturas, canhões apontados para o quartel. A situação é esta: só tenho aqui com viaturas, dois pelotões da Guarda e o resto da tropa apeada, Infantaria 1 foi para o Rossio e levaram os carros e não tenho contacto com eles.

- E então o que é que se há-de fazer?


- Não sei. Escuto. Não vejo solução… talvez aguardar…

- A nossa aposição é um tanto ou quanto ridícula. Estamos todos juntos aqui no Largo da Misericórdia aparentemente divorciados do resto da guerra. Tenho a impressão, salvo melhor opinião, que seria conveniente regressar a quartéis.

- Creio que há um ultimato até às 2 horas para entregar o Presidente do Conselho. Não sei se é verdade. Escuto.


- Que possibilidade vê de prosseguir a acção, com que meios, porventura, pôr à sua disposição.


- Não vejo possibilidade porque está tudo atravancado. Consegui limpar aqui o largo mas há muita população aqui metida no meio que não nos hostiliza porque julga que estamos do outro lado. Situação um bocado delicada de forma que não vejo bem maneira, a não ser com meios aéreos que possa limpar um bocado aquilo, porque a infiltração não me perece viável. Escuto!

Vale a pena voltar a ouvir:

…não vejo bem maneira, a não ser com meios aéreos que possa limpar um bocado aquilo, porque a infiltração não me perece viável.

Era este tipo de gente que, durante quase meio século, cerceou as nossas vidas e as nossas liberdades

Até que chegou o Dia das Surpresas.

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