sexta-feira, 2 de novembro de 2018

NUM QUARTO ÀS ESCURAS


Quando já se tem muita experiência do mundo, começamos a interrogar-nos se a experiência de todo esse tempo nos serviu realmente para alguma coisa e se aprendemos algo que possa ser útil para os nossos filhos, discípulos, amigos. Como não tenho filhos nem discípulos, concentro-me nos amigos. Reúno-os mentalmente num quarto às escuras, como se estivéssemos numa sessão de espiritismo. Cria-se uma certa expectativa face ao que agora lhes possa dizer. Esgoto todas as possibilidades de não ter de falar, porque na realidade, ter de transmitir o que quer que seja para a posteridade é um problema, um grandessíssimo problema e uma chatice. Mas finalmente obrigam-me e digo:
- Os que melhor falaram da morte morreram.

Enrique Vila-Matas em Diário Volúvel

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