segunda-feira, 5 de novembro de 2018

SARAMAGUEANDO


«O que por aí mais se vê, a ponto de já não causar surpresa, é pessoas a sofrerem com paciência o miudinho escrutínio da solidão, como foram no passado recente exemplos públicos, ainda que não especialmente notórios, e até, em dois casos, de afortunado desenlace, aquele pintor de retratos de quem nunca chegamos a conhecer mais do que a inicial do nome, aquele médico da clínica geral que voltou do exílio para morrer nos braços da pátria amada, aquele revisor de imprensa que expulsou uma verdade para plantar no seu lugar uma mentira, aquele funcionário subalterno do registo civil que fazia desaparecer certidões de óbito, todos eles, por casualidade ou coincidência, formando parte do sexo masculino, mas nenhum que tivesse a desgraça de chamar-se Tertuliano.»

José Saramago em O Homem Duplicado

Ainda hoje, e depois de uma segunda leitura, continuo à volta com este livro e ainda não encontrei o fio à meada.

Haverá fio? Haverá meada?

Saramago;

«Digo às vezes que o mais importante nas minhas obras são as epígrafes. O leitor não fique por aí; leia e pense.»

Na contracapa lê-se:

«O caos é uma ordem por decifrar.»

Legenda: capa de O Homem Duplicado publicado pela Porto Editora. A caligrafia da capa é da autoria de Lídia Jorge.

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