terça-feira, 13 de novembro de 2018

SARAMAGUEANDO


«Talvez Deus não seja católico, talvez não seja protestante, talvez não seja senão o nome que tem.»

José Saramago em In Nomine Dei

Peça de teatro em que José Saramago aborda o fanatismo religioso.
A acção decorre em Munster, na Alemanah, entre Maio de Maio de 1532 e Junho de 1535

A abrir In Nomine Dei, escreve José Saramago: 

«Entre o homem, com a sua razão, e os animais, com o seu instinto quem afinal, estará mais bem dotado para o governo da vida? Se os cães tivessem inventado um deus, brigariam por diferenças de opinião quanto ao nome e dar-lhe, Perdigueiro fosse, ou Lobo-d'Alsácia? E, no caso de estarem de acordo quanto ao apelativo, andariam, gerações após gerações, a morder-se mutuamente por causa da forma das orelhas ou do tufado da causa do seu canino deus?
Que não sejam estas palavras tomadas como uma nova falta de respeito às coisas da religião, a juntar à
“Segunda Vida de S. Francisco” de Assis” e ao “Evangelho Segundo Jesus Cristo.” . Não é culpa minha nem do meu discreto ateísmo se em Münster, no século XVI, como em tantos outros tempos e lugares, católicos e protestantes andaram a trucidar-se uns aos outros em nome do mesmo Deus – “In Nomine Dei” - para virem a alcançar, na eternidade, o mesmo Paraíso. Os acontecimentos descritos nesta peça representam, tão-só, um trágico capítulo da longa e, pelos vistos, irremediável história da intolerância humana. Que leiam assim, e assim o entendam, crentes e não crentes e farão, talvez, um favor a si próprios. Os animais, claro está, não precisam.»

Legenda: capa de  In Nomine Dei publicado pela Porto Editora. A caligrafia da capa é da autoria de Jorge Vaz de Carvalho.

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