Ficámos naquele ponto do Verão Quente de 75 a que José Saramago chamou o joga-da-cabra ou dos quatro-cantinhos.
Face ao impasse da discussão dos militares em redor do documento dos Nove e do COPCON, a 25 de Agosto, a esquerda partidária tenta uma saída para a crise e cria a FUR ,constituída por partidos e organizações políticas: FSP, LCI, LUAR, MES, MDP/CDE, PCP, PCP-BR e 1º de Maio.
A UDP recusou participar na Frente ao saber que esta englobaria o P.C.P.
No ponto 4 do comunicado que divulga a criação da FUR lê-se:
“A criação de uma frente que englobe os partidos políticos e outras organizações políticas revolucionárias, o MFA e os órgãos autónomos de poder popular referidos no documento guia da aliança MFA/Povo, constitui a saída para o processo revolucionário.”
Os trabalhadores de “O Século”, que elaboraram a 2ª edição do jornal, fazem publicar na 1ª página um comunicado a que chamaram “UNIDADE”:
“É debaixo da mais profunda emoção que aprontamos esta segunda tiragem de “O SÉCULO”. Hoje, 25 de Agosto, uma etapa histórica cumpre-se pela libertação de Portugal e pela construção do socialismo.
O acordo a que chegaram os oito partidos e organizações da classe operária – que souberam ultrapassar divergências para se unirem no essencial – marca o advento de uma nova época para o nosso País e constitui o primeiro passo para a unificação da classe operária e das classes trabalhadoras portuguesas.
Viva o Socialismo!
Viva a Revolução!
Viva Portugal independente!”
Na madrugada de 25 de Agosto centenas de indivíduos tentaram assaltar a sede do Partido Comunista em Leiria. As forças militares do R.A.L. 4 tiveram de intervir e verificou-se uma morte e vários feridos.
Luís Sttau Monteiro, enviado especial do “Diário de Lisboa” escrevia:
“Seriam 22 horas quando ontem entrei, pela segunda vez em 48 horas, nesta cidade de Leiria, que parece ter esquecido as regras mais elementares do comportamento humano para se dedicar a uma autêntica caça às bruxas comunistas num afã que se esqueceu de revelar contra as bruxas fascistas durante os cinquenta nos que antecederam o 25 de Abril. Que este desabafo não seja interpretado num sentido partidário: é-nos indiferente que as bruxas sejam deste ou daquele partido ou que a caça seja levada a cabo em nome destes ou daqueles princípios, como nos é indiferente que os ateadores de fogueiras actuem em nome desta ou daquela ideologia política.
O que nos revolta, o que nos leva, por vezes quase a desesperar, é isto de alguém se sentir no direito de defender o seu semelhante em nome de uma ideologia – seja ela qual for – e de saquear à vontade em nome de conceitos e de princípios.”
A 26 de Agosto de 1975, cumprindo ordens de Otelo Saraiva de Carvalho, os comandos de Jaime Neves calam a 5ª Divisão.
Segundo o depoimento de Varela Gomes em “A Contra-Revolução de Fachada Socialista”,
Jaime Neves terá dito aos soldados-comandos:
Jaime Neves terá dito aos soldados-comandos:
“Vocês vão daqui a pouco realizar uma missão igual às que faziam em Luanda; em lugar de irem caçar os comunistas do MPLA, vamos hoje caçar os comunistas da 5ª Divisão”.
Do “Diário de Notícias”:
“O problema da ocupação da 5ª Divisão do Estado-Maior das Forças Armadas por elementos militares às ordens do COPCON veio introduzir uma situação inédita e grave na crise política que o País está a atravessar há cerca de dois meses. Esta parece ser, com efeito, a primeira conclusão a extrair da análise dos acontecimentos da manhã do dia 27, e com ela estão de acordo as análises feitas até este momento por diversos oficias daquele órgão revolucionário.”
Na noite de 27 de Agosto a FUR organiza uma manifestação que reúne um mar de gente frente ao Palácio de Belém. O “Diário de Lisboa” classifica-a como a maior manifestação unitária depois do 1º de Maio.
No discurso que, nessa noite, Vasco Gonçalves afirmou “a nossa revolução corre graves perigos mas a unidade é a nossa defesa.”
O presidente Costa Gomes também discursou. Referindo-se à Frente Unitária.afirmou que ela “é um primeiro passo importante, mas só tomará dimensão nacional numa plataforma em que se incluam todas as outras forças políticas.”
Os manifestantes gritaram:
“Abaixo a social-democracia”
O presidente acabou por dizer: “ninguém quer sociais democratas mas o socialismo.”
Marcelo Rebelo de Sousa na edição do “Expresso” de 30 de Agosto, perguntando “Para onde vai Portugal?”, elabora 5 cenários a acontecerem até Dezembro de 1976.
“Os cenários necessariamente abstractos, que visualizamos são os seguintes:
a) triunfo da “leitura da esquerda revolucionária do processo político em curdo;
b) acesso e controle do poder, a título exclusivo ou dominante do PCP
c) adopção de uma linha de pendor socialista, mantendo os mecanismos da democracia política dita pluralista;
d) advento de de um regime político neocapitalista, aceitando um certo grau de “liberalismo” político;
e) instauração de uma autocracia de extrema-direita.”
Legenda: título da lª página de "A Capital" de 27 de Agosto de 1975.
1 comentário:
Eu estava lá!!!
LT
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