Pressente-se que o V Governo Provisório está por um fio.
A 18 de Agosto de 1975, Vasco Gonçalves , no pavilhão da Escola D. António da Costa em Almada, e com transmissão directa pela televisão e rádio, discursa:
“No dia em que se escrever a história destes últimos quinze meses, e se trouxerem a lume as graças e as manhas de alguns dos seus autores e figurantes, uns cujos nomes andam nas gazetas nacionais e estrangeiras, como paladinos da revolução e da liberdade, outros conspirando nos corredores e nos cantos da sombra, haverá decerto quem fique surpreendido. No entanto, para a grande maioria do nosso povo, a quem não se pode enganar eternamente a boa-fé, as revelações que se fizerem não serão mais do que a confirmação daquilo que ele já há muito suspeita.”
Mário Castrim na sua crónica de televisão no “Diário de Lisboa” de 19 de Agosto:
“Vasco Gonçalves um trabalhador entre companheiros trabalhadores. Um homem talhado à medida de um povo.”
O “Expresso” , na sua edição de 23 de Agosto:
“O discurso de Almada: um homem só rodeado pelos fantasmas que ele próprio criou.”
A 21 de Agosto Otelo Saraiva de Carvalho e Carlos Fabião reúnem-se, em Coimbra, com os comandantes das unidades da Região Militar Centro. O objectivo é a discussão de um “documento síntese” que pretende conciliar as posições assumidas no Documento do Copcon com o Documento do Grupo dos Nove.
Outros militares reúnem-se em Lisboa, nas instalações do antigo Ministério do Ultramar, com o mesmo objectivo. A reunião estende-se pela madrugada dentro. Um oficial do COPCON diz à reportagem do “Diário de Lisboa”:Uma longa reunião que termina Idêntica reunião, com outros militraes reúne-se , longamente, no antigo Ministério do Ultramar em Lisboa.
De uma notícia do “Diário de Lisboa:
“Discutimos, discutimos.”
“E então?”
“Não chegámos a acordo, como é óbvio!”
José Saramago no seu “Apontamento” no “Diário de Notícias” “ de 23 de Agosto:
“Em nossa humílima opinião, o primeiro-ministro Vasco Gonçalves é homem para o socialismo, o único entre as figuras históricas do M.F.A. Se é político para um dia ou para dez anos, não futuramos. Apenas prevemos que saindo ele não haverá socialismo em Portugal. Apenas prevemos que ficando ele talvez haja tempo para que se preparem, na boa prática, os futuros dirigentes populares que hão-de construir, firmar e defender a sociedade socialista portuguesa. Ninguém pode fazer o socialismo sem o povo, e o povo não o poderá fazer enquanto este jogo-de-cabra-cega ou de quatro-cantinhos empatar o caminho. A responsabilidade é hoje tão grande como isto: ajudar o primeiro passo para o socialismo ou ser o seu coveiro.”
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