O último passear pelo “Verão Quente de 1975”, ficou no tempo em que Mário Soares entrou deliberadamente no ataque ao IV Governo Provisório e ao MFA.
O “Expresso” de 26 de Julho de 1975 publicava uma entrevista com Mário Soares e colocava em título:
“E Agora, Mário Soares?”:
“Não eu não centralizo de maneira nenhuma a questão na pessoa do Primeiro-Ministro. Fez bem em pôr esta questão que me permite esclarecer o que penso: Para mim, o essencial não são as pessoas, os ministros, ou mesmo o Primeiro-Ministro. O essencial é o projecto socialista comum. Isso implica da parte do PCP, uma escolha e uma auto-crítica, não só em palavras como em factos: convencer-nos de que está disposto a renunciar ao seu assalto ao poder por processos anti-democráticos.”
Do Editorial do “Avante”:
“A acusação dirigida contra o Partido Comunista Português de que visa liquidar as liberdades é uma mentira. Os comunistas lutam hoje – como sempre lutaram – para defenderem as liberdades que estão de facto a ser atacadas pela reacção fascista. As únicas forças políticas que vêem hoje a sua liberdade coartada são exactamente as forças democráticas, que vêem os seus centros de trabalho assaltados, os seus militantes perseguidos, os seus materiais de informação e propaganda queimados e destruídos pelos provocadores fascistas”.
Em Évora, uma bomba foi arremessada para o interior de uma casa precisamente ao ladao daquela em que residia Dinis Miranda, membro do Comité Central do PCP.
Também em Évora, numa parede da Rua da Azaruja, apareceu a inscrição:
“Abriu a caça aos comunistas”.
No decurso de uma reunião, no “Mercado do Povo”, com oficiais, sargentos e praças, Otelo Saraiva de Carvalho profere aos microfones da Rádio Renascença a frase:
“Oxalá que realmente não tenhamos de um dia encher a arena do Campo Pequeno com muitos contra-revolucionários., antes que os contra-revolucionários nos metam a nós no Campo Pequeno”
José Saramago no seu “Apontamento” no “Diário de Notícias” de 1 de Agosto de 1975:
“Aqueles a quem interessava fazer crer que o fascismo morrera em Portugal na madrugada de 25 de Abril, que o capitalismo monopolista e latifundiário emigrara sem rancor, que a reacção era história-da-carochinha apenas útil para levantar barragens e acusações – esses mesmos que tudo isso procuravam fazer acreditar para melhor prepararem os seus planos de acção, deixaram-se enfim de máscaras e começaram a guerra. (…) esta guerra que vemos declarada é entre o fascismo e o socialismo, entre o passado e o futuro. (…) O que está em curso é, nem mais nem menos, uma grande manobra nacional de traição, ligada a uma grande manobra internacional de corrupção e intriga.(…) Quem o inimigo poupa às mãos lhe morre. Poupemos a reacção, poupemos o fascismo, eles nos matarão.”
Legenda: Título do “Diário Popular” de 30 de Julho de 1975.
1 comentário:
Digamos que Saramago foi premonitório, e a verdade sobre o Verão quente, e aquilo para onde Mário Soares nos empurrou, virá ao de cima. Por muito que os seus propagandistas de serviço o queiram branquear.
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